Pela primeira vez uma exposição de fotografia visita Castelo Rodrigo numa iniciativa promovida pelo “Cantinho dos Avós”, bar rústico que acolhe duas dezenas de imagens desde a passada sexta-feira. Contudo, a presente mostra, intitulada “Prazeres”, já está a suscitar alguma curiosidade. É que a escassa sensibilização para este género de manifestações artísticas provocou inicialmente uma certa «desconfiança» por parte da população, revela João Sousa, explicando que a exposição tem vindo a ser gradualmente «aceite de uma forma positiva por todos».
Para alguns dos habitantes da Aldeia Histórica é a primeira exposição de fotografia que têm a possibilidade de ver, daí que tenha sido recebida inicialmente «com alguma frieza», confessa João Sousa, proprietário do “Cantinho dos Avós”, para quem «contagiar positivamente as pessoas é também a nossa função». Conta, de resto, que, ao longo do dia, foi explicando o projecto aos seus clientes habituais, o que se pretendia fazer e «já parecia que estávamos a falar outra linguagem», garante. A reduzida oferta cultural a este nível é o principal motivo invocado para esta atitude, contudo, João Sousa sublinha que não se pode «culpabilizar ninguém por isto», até porque na generalidade a reacção «tem sido muito positiva». O que ainda não está a acontecer em relação à outra iniciativa englobada no desafio cultural do empresário, relacionada com a criação de um livro: «Ainda não apareceram os talentos escondidos na gaveta», lamenta, acrescentando que por isso o livro permanece em branco e só com o título “Interior”. Para João Sousa, este vai ser um trabalho «mais lento» de consagrar, na medida em que as pessoas «se intimidam», desconfia. Contudo, o projecto já foi divulgado junto da Escola Secundária de Figueira Castelo Rodrigo, onde os professores demonstraram «bastante interesse», diz, esperançado. Agora vai esperar pela próxima reacção, porque não tem dúvidas que existem «muitos escritores escondidos» nas redondezas e que irão aparecer nem que «tenha que ir buscá-los», assegura.
“Prazeres” é o título da primeira mostra fotográfica patente no “Cantinho dos Avós”. Expor em Castelo Rodrigo foi para Joana Saramago um «desafio» que aceitou e do qual não se arrepende porque é «uma terra espectacular». Não é a sua primeira exposição num bar, mas é sem dúvida a «mais diferente» de todas. A distância geográfica, a forma como as fotografias estão expostas, mas sobretudo o empenho dedicado às fotografias, são particularidades que fazem desta mostra «única» no seu currículo. Apesar da fotografia ser uma arte, Joana Saramago não se considera uma «artista», embora admita estar implícito no seu trabalho um desejo intrínseco de «comunicar algo de uma forma criativa». Deu os primeiros passos na fotografia ainda em criança, quando integrou um clube na escola preparatória, e agora é «uma paixão que não pára de crescer», afirma. No entanto, só quando ingressou na faculdade, para frequentar o curso de Design Gráfico, é que a fotografia adquiriu um estatuto «mais sério» para a jovem lisboeta. O tema fotografado e trazido até Castelo Rodrigo surgiu para uma exposição colectiva que não se concretizou, mas os Anjos do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, que parecem deambular ao virar costas, lá ficaram registados a preto e branco. «Gosto de fotografar estátuas e estas em particular, porque têm uma presença viva», explica a Joana Saramago, para quem estes anjos vivem num «jardim encantado, caminham e olham como as pessoas». Um olhar diferente sobre as coisas, o gosto por retratar estátuas, aliado à «mística natural» que estes anjos acumulam, estiveram assim na origem deste trabalho que pode ser agora apreciado em Castelo Rodrigo. Quanto ao desafio de escrever um livro, Joana Saramago admite a possibilidade de participar, mas avisa desde já que «não possui muito jeito para as letras».
Patrícia Correia