O Nerga e o Nercab poderão vir a tomar uma posição em matéria de descentralização administrativa. Dado o impasse e a indefinição instalados na região, os dirigentes das duas associações empresariais da Beira Interior abordaram muito recentemente o assunto e manifestaram a sua preocupação pelo previsível espartilhar da região em pequenas unidades territoriais «sem poder ou força reivindicativa», disse a “O Interior” um dos intervenientes. Um cenário que não agrada a empresários do Norte e do Sul, que lamentam cada vez mais que o assunto esteja «entregue aos presidentes de Câmara».
João Teixeira Diniz, presidente do Nerga, confirma que tem havido algumas conversas sobre o tema, mas por enquanto «nada de concertado e concreto», garante. «Somos cidadãos interessados e estamos preocupados com as consequências do que poderá vir a passar-se na nossa região», adianta o responsável, sublinhando que o Nerga ainda não tem uma posição oficial sobre uma matéria que é, sobretudo, do «domínio dos políticos, para quem, infelizmente, a opinião dos empresários vale muito pouco», lamenta. «Mas estamos atentos», avisa. Sem querer comprometer-se com qualquer cenário actualmente em discussão no xadrez da Beira Interior, o empresário reitera as declarações prestadas a “O Interior” após o debate sobre as comunidades urbanas e constata que «nas zonas mais ricas, onde as empresas são mais fortes, há mais empresários e onde se gera mais riqueza, as autarquias estão unidas e têm as suas comunidades prontas. Pelo contrário e infelizmente, nas zonas mais pobres, onde a precaridade de emprego e empresarial é maior, há mais problemas e maior dificuldade na união das pessoas».
Uma situação que, pessoalmente – como faz questão de referir – só entende por existir no interior «uma cultura enraizada ao longo destes anos de preocupação com o acessório em vez do essencial, que é efectivamente que a união é muito melhor que a desunião e que se calhar há muitas coisas que é preciso esquecer para proveito de todos. Essa será, eventualmente, uma das razões porque o nosso atraso é cada vez maior em relação às áreas mais ricas», critica Teixeira Diniz, que se diz adepto de uma «união muito grande» entre os concelhos da Beira Interior, admitindo mesmo essa possibilidade entre a Guarda e Castelo Branco porque «temos muitas diferenças, mas também muitas semelhanças, a começar pelos nossos problemas». Um lema que João Fernandes Antunes, presidente do Nercab, subscreve, exemplificando com o trabalho desenvolvido pelas duas associações empresariais. «A nossa acção tem sido positiva nos dois distritos, mas isolados perdemos dimensão e poder de reivindicativo. Assim não temos hipóteses», receia, adiantando que os empresários poderiam dar alguns contributos «muito válidos» para os políticos se definirem quanto ao caminho a seguir. «Mas eles fazem de conta que não existimos», acusa.
De resto, ainda ninguém esqueceu os seus recentes apelos à união dos distritos do interior, como aconteceu por ocasião da apresentação do Plano de Recuperação das Áreas e Sectores Deprimidos (PRASD), em Outubro passado. «Para além de políticas de emprego e de desenvolvimento, o que faz falta ao interior é união. Quando isso acontecer conseguiremos chegar mais rápido aos nossos objectivos e decidir quais os investimentos que deveriam ser feitos», disse na altura a “O Interior”, citando o caso do turismo, identificado no estudo de Daniel Bessa como um potencial de desenvolvimento da região: «Se assim é, os distritos da Beira Interior deveriam unir-se em defesa de um investimento forte nessa área, de um projecto global. Acho que o Governo não ia dizer que não às nossas reivindicações, porque até criou instituições que podem ajudar nessa estratégia comum de captar investimentos, caso da API», recordou.
Luis Martins