Dentro de dois meses vai ser criada uma marca própria para vestuário, artesanato e produtos gastronómicos feitos na Covilhã.
Poderia tratar-se de uma iniciativa original, mas não o é porque já existe uma marca para os produtos da Cova da Beira.
Poderia ser uma boa ideia, mas recentemente foi publicado um relatório que identifica claramente a Serra da Estrela como única marca da região com algum potencial.
Poderia ser uma iniciativa com algum futuro, mas coincide com o processo de criação de uma Comunidade Urbana onde um dos objectivos passa, justamente, pela promoção conjunta das potencialidades de toda a região.
Por isso defendo que há duas ordens de razões para que a criação de uma marca própria da Covilhã seja uma má iniciativa: razões técnicas e razões políticas.
Em termos técnicos, parece-me errado que se assuma a criação de uma marca como um mero acto, quando se trata de um processo longo e moroso. Para além disso, considero que reduzir a marca aos produtos “made in Covilhã” é um equívoco, pois todos os estudos apontam no sentido de se aproveitar a notoriedade e a dimensão da região da Serra da Estrela. Criar uma marca “made in Covilhã” é abrir a porta a uma “made in freguesia da Conceição” e, porque não, a uma “made in Beco da Alegria”.
Em termos políticos, a ideia é incoerente com o processo de constituição de uma Comunidade Urbana na região. Ainda a semana passada, o presidente da Câmara da Covilhã escrevia neste jornal que se deve aproveitar a oportunidade de constituir uma Comunidade Urbana “com peso demográfico e universo territorial significativo”. Agora, essa mesma Câmara aparece associada ao projecto de criação de uma marca para os produtos do seu concelho. Ora, não podemos dar uma no cravo, outra na ferradura. Não se pode pedir “dimensão” para umas coisas e incentivar os “nichos” para outras. São incoerências como estas que levam alguns autarcas a hesitar na hora de dizer “sim” a uma Comunidade Urbana que integre a Covilhã.
Por: João Canavilhas