A capeia da Lageosa da Raia abriu com pompa e circunstância a temporada das corridas de touros com forcão no concelho do Sabugal. Este ano, os mordomos apostaram em touros de casta espanhóis e portugueses – ou seja, “virgens”, que nunca foram lidados em praça – e a aposta valeu a pena.
Em praça estiveram três touros da lendária ganadaria espanhola de Victorino Martin, um de Palha, histórico criador português, e outros de Oliveira e Irmãos, Murteira Grave e Álvaro Matias – os dois touros de Oliveira e Irmãos e de Murteira Grave substituíram os dois animais de Álvaro Matias que fugiram durante o encerro. «A escolha de touros puros deu outro estatuto à capeia e, além disso, trouxe muitos espanhóis que vieram à Lageosa para ver exclusivamente o comportamento dos Victorino Martin no forcão», adianta João Cláudio Madalena, para quem a capeia raiana precisa de um «salto mediático e de apostar nos touros “puros” para dignificar a lide com forcão. «Um animal com 500/ 600 quilos é muito peso e muito volume se o touro não for “puro” porque desenvolve sentidos pelo facto de já ter sido lidado em praça», refere João Cláudio Madalena.
Para perceber esta e outras especificidades da capeia “arraiana”, José Manuel Sanches Pires escreveu “Lageosa da Raia e as suas capeias”, um livro apresentado durante as festas da aldeia. Editado pela RVJ editores, com a chancela do Inventário Nacional do Património Cultural, a obra é um documento de estudo e análise de tudo o que envolve a capeia, das origens, à escolha dos mordomos, passando pela construção do forcão, pela atuação dos capinhas e o toque dos tamborileiros. Há ainda um capítulo dedicado a 60 anos de mordomias na Lageosa e a alguns dos acontecimentos mais marcantes de cada ano desde 1952. A edição tem numerosas fotografias, grande parte cedidas por particulares e que constituem um verdadeiro acervo etnográfico desta tradição. «Se, porventura, esta memória se perdesse, com ela morreria também a parte mais importante da cultura raiana. E, mais do que isso, com o fim das capeias perder-se-ia a razão pela qual, todos os anos, muitos “arraianos” se deslocam, devotamente, às suas aldeias natais», escreve o autor, médico em Castelo Branco onde presidiu ao Conselho de Administração do Hospital Amato Lusitano.