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A agenda escondida

Editorial

1. A cidade da Guarda foi transformada nos últimos dois anos num verdadeiro estaleiro. Pelo menos nalguns bairros e artérias onde a “regeneração” foi implementada.

Os residentes do bairro da Senhora dos Remédios levam três anos a viver no meio de obras. Um dia abre-se um buraco, que no dia seguinte se fecha, para depois se voltar a abrir… O mesmo se passou ao longo de três anos no Bairro de S. Domingos. Nas ruas António Sérgio e Cidade Safed o cenário era ainda mais incomodativo. A intervenção no designado “arco comercial”, iniciada há dois anos, era feita a passo de caracol, e a zona do Bonfim demorou também mais do que o desejado… pelos cidadãos. No Bairro de S. Domingos tudo voltou à normalidade e faltam pormenores finais; na Senhora dos Remédios começa a sentir-se que o fim das obras está para breve; no Bonfim falta pouco; na rua Cidade Safed a intervenção foi praticamente concluída; na António Sérgio falta um mês; na rotunda da “Ti Jaquina” faltará pouco mais; e até a “queda de água” (junto à Gago Coutinho”) já está em obra e em breve vai ter forma… Pelo meio, até a estrada do Rio Diz, que atingiu um estado vergonhoso de degradação, foi requalificada. Estará tudo pronto no final de setembro. Ou quase.

2. Como destacamos nesta edição, as obras no Parque Industrial da Guarda arrastam-se há muitos meses. Para os empresários, para aqueles que ali trabalham, para quem ali se desloca, o estado de degradação do pavimento provoca incómodo e causa muitos prejuízos. Mais, a lentidão com que os trabalhos decorrem causa inclusive irritação – um dia, dois trabalhadores a calcetar uns metros de passeio; no dia seguinte, três operários a colocar um lancil… tudo devagar, devagarinho, quase parado.

Finalmente, a Câmara da Guarda esclarece-nos que na próxima semana as artérias irão ser pavimentadas. Ou seja, entre alcatrão e os pequenos arranjos pendentes… em setembro as obras estarão concluídas.

3. Se isto não são obras feitas de acordo com uma agenda eleitoral, parecem… O incómodo será olvidado e a falta de memória irá desresponsabilizar todos os que agendaram as empreitadas com um fim eleitoralista e que durante três anos prejudicaram milhares de pessoas.

Esta agenda obedeceu a um critério: ganhar votos. A herança das intervenções, que serão apresentadas como exemplares ao cidadão (que entretanto rapidamente se esqueceu da irritação provocada por tanto tempo de penalizações e contratempos), iria contribuir para mais uma vitória do Partido Socialista, neste caso para uma candidatura liderada por Joaquim Valente, se tivesse querido ser candidato, ou pelo seu sucessor Virgílio Bento. Entretanto, o PS escolheu José Igreja e Virgílio Bento avançou contra o seu partido. Quem é que representa essa herança? Quem é que é que vai usar as obras desta agenda para ganhar votos? Ninguém, por decoro. E quem é que tem de ser responsabilizado pelo que foi mal feito, pelos atrasos e incómodos ao cidadão, pelo esquema de obras que vai concluir em setembro, porque há eleições?

Entretanto, estranhamente, ninguém parece preocupado em discutir o buraco financeiro da Câmara da Guarda. Nem ninguém quer assumir responsabilidades por quase 50 milhões de dívidas da autarquia, nem o PS, nem Virgílio Bento. Ou seja, as responsabilidades pertencem ao passado, um passado demasiado longínquo para alguém querer falar dele… Mas elas existem e têm que ser partilhadas por Virgílio Bento (vice-presidente da Câmara nos últimos oito anos) e pelo PS enquanto partido que sustentou o executivo.

Luis Baptista-Martins

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