A divulgação do resultado bioclimático da cidade da Guarda será sábado o ponto alto do primeiro Congresso de Bioclimatismo e Doenças Respiratórias, que decorre durante todo o dia na sala de sessões da Assembleia Municipal guardense. Organizado pela Guard’Ar – Associação para a Promoção do Ambiente e da Saúde no Concelho da Guarda, o evento junta vários especialistas nacionais e estrangeiros e pretende contribuir para demonstrar que o ar da cidade é «bioclimaticamente puro» para o tratamento das doenças respiratórias. Por outro lado, os organizadores tencionam alertar o Ministério da Saúde para a ausência total de legislação nesta área em Portugal. Dois grandes desafios que dependem das conclusões deste congresso inédito no nosso país.
A iniciativa, que poderá contar com a presença de Luís Filipe Pereira na sessão de encerramento, desdobra-se em duas sessões, uma científica, a realizar durante a manhã, e outra de carácter mais abrangente, dedicada à contextualização do bioclimatismo no futuro da cidade. Pedro Rebelo, um dos responsáveis da Guard’Ar, mostra-se bastante optimista quanto às conclusões do estudo das características do ar da Guarda. Iniciado em Janeiro do ano passado, o documento deverá sustentar toda uma estratégia de desenvolvimento para a cidade em torno desta área de cuidados de saúde: «Queremos tentar demonstrar que é mais barato tratar um doente respiratório na Guarda do que noutros pontos do país, pois aqui existirão as condições ideais para que esse tratamento tenha êxito e a um menor custo», refere o empresário, que adianta que as perspectivas iniciais que motivaram o estudo mantêm-se intactas. «Mas só no sábado teremos ou não a confirmação, tecnicamente abalizada, que falta», sublinha. Até lá, o segredo é a alma do congresso, já que o negócio fica para outra ocasião. Conhecido o estudo, Pedro Rebelo espera que a cidade, os seus empresários e outras entidades possam «aproveitá-lo e concretizá-lo no futuro», considerando ser exigível numa segunda fase «empenhamento e acção, porque de boas intenções está o inferno cheio», avisa.
Uma posição que o porta-voz dos associados da Guard’Ar explica com o carácter «altruista» do projecto. «É o nosso contributo para o desenvolvimento da Guarda, que gostaríamos de ver recuperar a imagem de cidade de saúde e com ar de qualidade, como teve no início do século passado», diz o empresário, que não duvida da importância do bioclimatismo para a cidade e para o país. Contudo, uma das grandes contrariedades que se perfilam no horizonte prende-se com a inexistência em Portugal de legislação sobre o bioclimatismo, tratamento que em França é comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde. «Neste momento não há nada sobre esta matéria, mas esperamos que o ministro da Saúde, ou quem o represente [a vinda de Luís Filipe Pereira ainda não estava confirmada à hora do fecho desta edição], saia da Guarda consciente da importância do bioclimatismo», acredita Pedro Rebelo. Caso contrário, haverá projectos alternativos a desenvolver no âmbito do desporto, turismo e lazer, «mas o ideal é que isso seja um complemento da saúde», insiste. Até lá, será mantida a monitorização contínua do ar da cidade, cuja certificação está dependente das conclusões do estudo.
O congresso
O primeiro Congresso de Bioclimatismo e Doenças Respiratórias da Guarda vai debater o custo das doenças respiratórias crónicas, o bioclimatismo, o projecto Guard’Ar e a importância deste tipo de tratamento para a estratégia futura da cidade. Está prevista a intervenção dos pneumologistas e alergologistas Júlio Gomes (director do serviço de Pneumologia do Hospital Sousa Martins), Segorbe Luís (professor da Universidade de Coimbra e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia), Robalo Cordeiro (professor da Universidade de Coimbra), Cristina Bárbara (professora da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa), Rosado Pinto (professor da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e director de serviço Imunoalergologia do Hospital Dona Estefânia), Taborda Barata (professor da Universidade da Beira Interior – departamento de Ciências da Saúde), Hassan Razzouk (director CEMBREU e presidente da Federação Europeia de Bioclimatismo), Pedro Lopes da Mata (British Hospital – Lisboa), Ramiro Ávila (professor da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e director clínico do British Hospital) e Carlos Teixeira (director comercial do Laboratório GlaxoSmithKline).
Luis Martins