O Presidente da República esteve cinco semanas sem sair de Belém. Dá a sensação que o homem andava com medo de aparecer em público, não fosse alguém começar a cantar a “Grândola, Vila Morena” e a vaiar Sua Excelência. A «cooperação ativa», prometida por Cavaco em campanha eleitoral, traduz-se nisto: uma mistura de silêncios, exílios, retiros, palavras vazias e, a acreditar nas suas palavras, intensas atividades na sombra dos bastidores. Numa palavra, quietinho e caladinho é melhor.
O governo diz querer discutir a reforma do Estado mas nunca mais apresenta as suas propostas para que se possa iniciar o debate. A austeridade é uma fatalidade, o que não é uma fatalidade é a maneira como é feita a austeridade. O governo, à semelhança do seu antecessor que tanto criticava, preferiu o caminho mais fácil do “enorme” aumento de impostos, enquanto empurra com a barriga ou chuta para canto as decisões difíceis. A pindérica “reforma autárquica” conduzida pelo inefável Miguel Relvas é ilustrativa: não se mexe no essencial (os municípios), elimina-se meia dúzia de freguesias aqui e uma dúzia acolá, poupam-se uns trocos e, pronto, já está. Grosso modo, é este o método que os príncipes que nos pastoreiam gostariam de aplicar ao resto do país.
A oposição diz querer expulsar e lixar a “troika”, mas ninguém nos explica onde se ia buscar depois o dinheiro, dinheiro que, apesar de tudo, nos tem permitido continuar a manter as aparências de um país normal. Convém recordar que, não obstante os sacrifícios infligidos aos portugueses, o défice previsto para 2013 é de 8 mil milhões de euros e esse buraco é, mais coisa menos coisa, tapado com o dinheiro emprestado pela “troika” – os cortes “permanentes” na despesa pública de 4 mil milhões anunciados pelo governo reduzem o buraco apenas para metade.
A oposição quer derrubar o governo com o argumento de que já não tem legitimidade, mas tremo só de pensar no To Zé Seguro como primeiro-ministro e dá-me vontade de me atirar do 3º andar onde vivo só de imaginar o Luís Fazenda como ministro ou aquela tipa do Bloco, cujo nome agora me escapa e que é coordenadora ou coisa que o valha daquela trupe.
A oposição não quer pagar mais impostos, nem mais cortes na despesa. Não duvido que na cabeça do grande líder sindical Arménio Carlos tudo isto é possível, tudo isto faz sentido. Não sei se na cabeça da maioria dos portugueses isto tem alguma lógica. Já não digo nada. Portugal está a transformar-se num manicómio. Estamos lixados.
Por: José Carlos Alexandre
* José Carlos Alexandre e Albino Bárbara assinam semanalmente, de forma rotativa, o espaço de opinião “Agora digo eu” a partir desta semana