Vallecula significa, em latim, “pequeno vale”. É também o nome do que foi considerado o melhor restaurante tradicional português de 2012. Fica em Valhelhas, no Largo do Pelourinho, e deve o seu nome ao maravilhoso vale que por aí segue até Manteigas. Luís Castro recebeu o prémio, atribuído pela Revista de Vinhos, na Alfândega do Porto, perante mais de mil convidados. Nos agradecimentos não se esqueceu da D. Fernanda, a extraordinária cozinheira da casa, sua mulher. O restaurante é minúsculo, e por isso duas pessoas são suficientes para tratar de tudo: uma na sala, outra na cozinha. Aqui, o segredo é a imaginação da cozinheira e a qualidade dos produtos. Fácil, não é?
Não, não é fácil. É preciso ainda haver sorte e, nos tempos que correm, capacidade de resistência. Com o IVA a 23% os restaurantes ficaram mais caros. A crise, que diminuiu os rendimentos à maioria dos portugueses, está a afastá-los dos restaurantes e dos gastos “supérfluos”. Repararam nas aspas? É que estes gastos não são supérfluos. Mesmo que seja mais caro, mesmo que seja impossível ir muitas vezes, temos de continuar a ir aos nossos restaurantes. Devemos-lhes isso a eles, em gratidão pelos bons momentos que lá passámos quando tínhamos dinheiro, mas também como forma de garantir que haja retoma ou, pelo menos, que as coisas não piorem ainda mais.
A restauração e o turismo asseguram em Portugal centenas de milhar de postos de trabalho e boa parte da receita fiscal. O IVA a 23% foi uma medida burra, própria de quem nos governa, mas não deve desencorajar-nos. A nossa desistência já fez mossa. Fechou já, bem perto da Guarda, por perseguição fiscal mas também por falta de apoio de nós todos, o Casas do Bragal. Outros passam dificuldades, quais não passam?, e podem um dia vir a fechar também. Temos na Guarda óptimos restaurantes, melhores em geral do que na Covilhã, em Viseu, em Castelo Branco (e podia continuar). Quando vêm amigos de fora, tenho sempre um sítio diferente para os levar e sei que vão gostar. “Como é que uma cidade tão pequena tem restaurantes tão bons?”. Pois é.
Por isso, se gostam do Caçador, da Mexicana, da Colmeia, do Dom Garfo, do Belo Horizonte, do Aquarius, do Venezia, do Vallecula, e de muitos outros, têm de continuar a ir lá regularmente. É verdade que o dinheiro faz falta no final do mês e que o Estado e os bancos não nos dão grande margem de folga, mas temos de continuar a resistir. Se há saída para a crise, tem de partir de nós, não de Coelhos e Gaspares (e quejandos), e uma das possíveis maneiras é continuar a ir a restaurantes.
Por: António Ferreira