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«A criação deste curso é um imperativo regional, nacional e europeu»

Cara a Cara – Urbano Mestre Sidoncha

P – Quais os motivos que levaram a UBI a apostar na criação de uma nova licenciatura em Ciências da Cultura?

R – Em primeiro lugar, foi feito um diagnóstico que já vinha a ser trabalhado há algum tempo na Faculdade de Artes e Letras (FAL) que conseguiu detetar que há uma necessidade permanente de dar resposta às novidades e mutações da atividade cultural. Deste modo, o curso surge por efeito de um planeamento cientifico e académico sólido da FAL, que percebeu que tinha capacidade instalada e “know-how” para se lançar na tarefa. Temos na Faculdade uma rede multidisciplinar que é, do ponto de vista académico, a matriz ideal para lançar um curso como este. Há aqui uma oportunidade muito feliz que a FAL e a UBI souberam aproveitar. Depois, temos que perceber que a cultura se foi paulatinamente transformando e está progressivamente a tornar-se numa profissão. Nas suas múltiplas caraterizações, a cultura tem vindo a transformar-se num fator decisivo pelas suas consequências, não apenas a nível social e político, mas também económico. Lembro, por exemplo, que, segundo os dados mais recentes, as indústrias culturais e criativas empregam neste momento na União Europeia sete milhões de pessoas. A criação deste curso é, pois, um imperativo não apenas regional, porque temos um património natural, histórico, museológico riquíssimo nesta região, e um património imaterial e simbólico vasto e de grande importância. Por essa via, é um imperativo regional, mas também nacional e europeu.

P – A grande riqueza cultural de vária ordem da região também foi uma condição tida em conta para a criação do curso?

R – Absolutamente. O diagnóstico estava feito, o levantamento do contexto cultural em que a UBI se insere também e numa primeira aproximação o entusiasmo que recebemos de retorno em resposta à proposta de criação do curso foi também um estímulo decisivo para avançarmos. Percebemos que o próprio curso podia ser um fator de afirmação da universidade no contexto da região, mas também é importante para a região.

P – A criação do curso vem dar resposta a uma lacuna existente na região?

R – Não diria apenas na região, mas também a nível nacional. Há cursos de Ciências da Cultura em Lisboa e no Porto mas esses partem de outras coisas, nomeadamente a comunicação e depois cuidam da valência cultura, mas que não a tomam como o seu núcleo temático essencial. O curso de Ciências da Cultura da UBI faz isso. O seu tema fundamental é a cultura. Dizemos até que o lema do curso é “estudar cultura, comunicar cultura e criar cultura”. A cultura percorre transversalmente todas as dimensões da nova formação e depois tem associada toda outra série de áreas cientificas que fazem parte da rede multidisciplinar que já falei.

P – As Ciências da Cultura são uma área de futuro?

R – Sem dúvida. A Faculdade já vinha paulatinamente a trabalhar sobre este projeto há alguns anos e percebemos claramente que isto não é uma moda e uma tendência passageira. É uma necessidade permanente e estrutural. Fala-se muito hoje em dia de bens transacionáveis. Não tenhamos sobre isso nenhuma dúvida. A cultura é um dos bens que temos com maior capacidade para gerar riqueza e valor. Diz-se muitas vezes que nas crises também há oportunidades. Se há uma oportunidade que esta crise vem tornar incontornável é a a cultura como aposta estratégica e decisiva que o país terá que fazer.

P – Com quantas vagas vai abrir o curso?

R – De início com 20 vagas. Achamos que é um número razoável e que, depois, em função do funcionamento do curso nos anos subsequentes pretendemos eventualmente aumentar.

P – Quais serão as possíveis saídas profissionais dos licenciados em Ciências da Cultura?

R – Quando desenhámos a proposta, pensámos em três possibilidades que são uma espécie de extensões naturais do curso. A primeira é a da investigação e o curso na sua grelha curricular oferece vias próprias para quem quer estudar cultura e que pode concretizar depois à saída do curso em mestrados ou doutoramentos que já existem na UBI. Outras áreas fundamentais são a gestão cultural e as indústrias culturais e criativas que considero serem uma das grandes apostas a fazer na cultura. Outras possibilidades de saída profissional são a difusão cultural, a discussão e a aplicação de políticas culturais e o fomento ativo do retorno económico das atividades culturais. Os novos licenciados, em função da sua mobilidade e das competências académicas e cientificas que venham a adquirir, poderão ainda assumir o papel de programador, curador, assessor ou consultor em projetos ou instituições de relevância cultural. Outra área fundamental é o turismo cultural. Para além dos órgãos próprios que cada curso tem, criámos um conselho consultivo, onde a ideia é juntar pessoas da universidade e da região para que se estabeleça um diálogo permanente, de modo a perceber as necessidades de emprego que se colocam ao nível da cultura.

Urbano Mestre Sidoncha

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