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Hic et Nunc

Quando o Núncio veio anunciar, em nome do governo, que qualquer um de nós, honestos cidadãos deste cantinho à beira mar plantado, poderão ser fiscalizados à saída de uma loja chinoca, do mercado semanal, de um café, de um restaurante, de uma casa de alterne, de uma sex shop, de uma cabeleireira ou de uma oficina, estava longe de perceber qual seria a reação de alguns de nós, a começar, desde logo, pelo antigo secretário de Estado da Cultura deste governo.

Francisco José Viegas, nosso conterrâneo, natural do Pocinho e autor de “Longe de Manaus”, Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, escreve que «se o fiscal, pobre funcionário, sem qualquer culpa, me pedir a fatura das despesas, terei de lhe responder para ir tomar no cu ou então solicitar a minha detenção por desobediência».

Fiquei, como não podia deixar de ser, boquiaberto, pois a linguagem baixou de nível. No entanto, e após a surpresa inicial, percebi que Viegas passou por este governo e sabe muito bem como são tratados os portugueses, conhece a linguagem brejeira e ordinária destes pseudo-comunicadores de meia tigela, pois todos os dias somos brindados com afirmações, discursos, posturas e imposições bem desagradáveis. Realmente, é fácil perceber o que faz, o que determina e onde nos manda levar este governo. Olhemos para os desempregados, para os reformados, para os inquilinos, para os professores, para os funcionários públicos, para os 2 milhões que vivem abaixo do limiar da pobreza, para a arrogância dos banqueiros, para os BCP’s, para os BPN’s, para os ricos que não pagam tributo ao Estado e continuam a fugir e a depositar os milhões em paraísos fiscais, para os que perdem a sua habitação, para o agravamento de impostos, IRS, IRC, IMI, para o abandono escolar, para a tentativa de destruição do Serviço Nacional de Saúde, do Estado Social e de todas as conquistas do 25 de Abril?

Se o povo, na sua santa e sábia sabedoria, já utiliza expressões como cu de Judas, nascer com o cu virado para a lua, tirar o cu da cama, pimenta no cu dos outros é refresco, cara de cu, cu de sono, Viegas colocou o dedo (penso) que na ferida, (embora eticamente não lhe fique nada bem), poderia ter ido mais longe, denunciando uma série de situações e políticas, com as quais, ele, enquanto governante, durante ano e meio, esteve em completa concordância e ninguém lhe ouviu um pio e, se Alberto Pimenta, no seu famoso “Discurso do Filho da Puta”, salienta as discrepâncias, cada vez mais acentuadas, entre a classe dominante e, nós, os pobres, estes “senhores” que atualmente nos (des)governam optaram desde sempre por desconfiarem dos portugueses.

Cris Nicolotti, vencedora do vídeo musical Brasil 2007 com o tema “Vai tomar no cu”, batizou o seu espetáculo com o título, “Se piorar, estraga”. Sinceramente, todos diremos e com (quase) toda a certeza que estragado isto já está.

Antes de terminar, e porque Cavaco pode seguir o exemplo do seu congénere do Vaticano e deixar em funções estes “senhoritos”, quero afirmar que pela parte que me toca, também eu, não irei pedir fatura de compras de lana-caprina e, se for detido, por incumprimento ou desobediência, irei protestar e não mandarei o fiscal levar onde levam as galinhas, optando por chamar estes tipos de doidos, de doidos varridos, pois, quer se queira quer não, a chamada obsessão-subjugação está subordinada ao jugo das correntes do obsessor, que passa a comandar, subjugando o obsidiado de modo integral e nas obsessões os modelos psicológicos a aplicar representam suportes que buscam o equilíbrio e o ajuste. E quando, em tempo de verdadeira crise, com a “troika” quase aqui a chegar, o (des)governo não tem um plano B está tudo dito. Não está…

Por: Albino Bárbara

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