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Guarda volta a confrontar-se com a falta de meios de limpeza de neve

Carros abandonados, camiões atravessados e cidadãos a pé no regresso a casa, foi este o cenário vivido na cidade na semana passada

O nevão da semana passada evidenciou, mais uma vez, as dificuldades de resposta a condições climatéricas agrestes, nomeadamente devido à escassez de meios da Proteção Civil. «Os meios são poucos e, além disso, os que temos são antigos e exigem um grande esforço manual», admitiu Eduardo Matas a O INTERIOR.

O coordenador do serviço municipal da Proteção Civil da Guarda reitera a urgência dos meios que tem vindo a «reivindicar nos últimos tempos», bem como as complicações resultantes da «falta de colaboração de algumas entidades ligadas à circulação de vias, regulamentação e sobretudo viaturas». Todavia, apesar destas condicionantes, o responsável considera que o «“feedback” do último nevão foi positivo», uma vez que «em termos de comunicação tivemos bons resultados e os cidadãos cumpriram as recomendações». «A exceção foram as viaturas pesadas, que não ouviram as nossas recomendações e se aventuraram», critica Eduardo Matas. A extensa camada de neve complicou a mobilidade dos veículos pesados, o que fez com que mais de uma centena de motoristas não tivesse conseguido deslocar-se, registando-se o atravessamento de alguns camiões.

A Transnate – Transportes Internacionais foi uma das empresas afetadas, com três dos seus camiões a ficarem condicionados, dois deles na A25. O outro ficou atravessado no acesso à VICEG, junto à rotunda dos Bombeiros, na terça-feira: «O nosso motorista disse que a estrada estava desimpedida e, como não havia sinalização nem informações contrárias, tentou subir», adianta Manuel Santos, responsável de tráfego da Transnate. O camião só foi removido na manhã do dia seguinte, estando a estrada cortada ao trânsito até essa altura. Para Manuel Santos, «um dos caminhos pode ser o corte dessas vias a pesados e sinalizar, para evitar situações como esta», sugere. Quem se deslocou para trabalhar na cidade também foi afetado, já que vários acessos não foram desimpedidos. Ana Gonçalves, do Mestre Cópia (Lameirinhas), mora em Santana da Azinha e teve dificuldades em chegar ao seu local de trabalho: «As estradas estavam muito más e têm curvas complicadas, que até com gelo dão problemas», adianta a comerciante.

«Na terça consegui chegar às 10h30 e na quarta ao meio-dia. Vim devagar no meu carro, mas foi bastante complicado porque o limpa-neves não passou na minha zona», lamenta. Também os clientes foram menos: «Pode dizer-se que houve uma perda significativa, vieram menos pessoas do que o habitual e, como costumo abrir às 8h40, houve a perda dos clienets que poderia ter atendido no espaço de tempo em que não estive aqui», afirma Ana Gonçalves.

Já quanto aos meios de limpeza estiveram envolvidos dois tratores equipados com espalhador de sal (um deles também com lâmina de afastar a neve), um limpa-neves ligeiro e outros das Estradas de Portugal (EP), uma carrinha de caixa aberta com tração total, um trator com reboque da divisão dos Serviços Urbanos, três carrinhas do SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento) e duas viaturas todo-o-terreno para transporte de pessoas. «Contámos com cerca de uma vintena de colaboradores», refere Eduardo Matas.

«O distrito da Guarda está bem equipado»

António Fonseca, comandante do Comando Distrital de Operações e Socorro (CDOS) da Guarda, considera que, «face às condições económicas do país, o distrito da Guarda está bem equipado para combater a neve». Na sua opinião, a prestação de socorro – «competência direta» do CDOS – foi garantida no nevão da semana passada: «O que sofreu alterações foi a comodidade dos cidadãos, que tiveram de ir a pé ou demoraram muito tempo em filas», considera. «A força especial de bombeiros tem meios com valências diversas para chegar a sítios menos acessíveis e nós temos um veículo de comando 4×4, preparado para condições climatéricas mais difíceis», acrescenta.

António Fonseca não pede mais meios, já que os que tem ao seu dispor têm sido «suficientes». Quanto aos “soldados” da paz, o comandante distrital salienta que «oito ambulâncias todo-o-terreno é uma dimensão difícil de encontrar noutro lado». Já em relação ao mau estado das vias, o responsável lembra que «não é a Proteção Civil que tem de desimpedir as vias», visto que essa é uma responsabilidade das concessionárias nas autoestradas e das Câmaras nas estradas municipais.

AHBVE lança concurso para adquirir nova viatura

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses (AHBVE) vai lançar em fevereiro um novo concurso público internacional para aquisição de uma viatura com caraterísticas polivalentes, que será também mais um recurso nos nevões da Guarda.

Ao contrário do que estava previsto, esta não será exclusiva para limpeza de neve – o que teria uma «utilização residual» –, aumentando assim «a capacidade de intervenção noutras situações de emergência», declara o presidente da direção da AHBVE. Os 80 mil euros disponibilizados pelo então Governo Civil, a título de comparticipação nacional na candidatura ao QREN, integrada no programa Mais Centro – Programa Operacional Regional do Centro, «continuam consignados para tal fim», garante Luís Borges, dizendo que a Câmara tem sido informada pela Associação Humanitária, «oficialmente e por escrito», de todos os passos dados neste processo. A candidatura inicial contemplava um limpa-neves, uma pá carregadora para transportar e espalhar sal e um trator equipado com lâmina de neve, mas apenas inclui agora a aquisição de «um veículo de classe M, categoria 2 ou 3, capacitado para utilização de vários equipamentos», adiantou o gabinete de comunicação da Câmara da Guarda a O INTERIOR. Esta alteração foi proposta pelos bombeiros guardenses, sendo que a viatura poderá ser utilizada em «espaços urbanos, eixos rodoviários, limpeza de neve e gelo e desobstrução em acidentes rodoviários ou outros», refere o município.

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        meios de limpeza de neve

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