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Bater no fundo

Editorial

1. O relatório do FMI é um murro no estômago para todos os que pensavam que os sacrifícios de 2012 tinham valido para alguma coisa e que agora era tempo de começar a “levantar a cabeça”. Não é. O Governo insiste num programa de austeridade absoluta e de desinvestimento que deixa a economia à beira do colapso. E o estudo que os técnicos do FMI elaboraram afirma a necessidade acrescida de diminuir despesa e redimensionar o Estado, aumentar as horas de trabalho e despedir funcionários públicos, alargar a idade da reforma e reduzir o valor das reformas mais altas – afirmando que a equidade e a eficiência são metas essenciais. E apresenta um terceiro item, como determinante para a prossecução de reformas e revitalização do país: salvaguardar consensos. Ora este é o maior problema, este Governo não sabe, não tem sabido, envolver a sociedade na necessidade de reformas, de mudanças, de transformações com objetivos e metas definidas. Como se percebe pelo coro de críticas à esquerda e à direita, o “relatório” do FMI não vai trilhar caminho.

Mas faz sentido ler e discutir algumas das sugestões preconizadas, até para se perceberem os equívocos na forma como o país foi retratado pelos “especialistas” do Fundo (o estudo pode ser lido e consultado, entre outras versões, na traduzida pelo Aventar http://aventadores.files.wordpress.com/2013/01/relatorio-fmi-traducao.pdf). Portugal é um país de enormes desigualdades e onde é necessário fazer correções em todas as áreas – e o relatório do FMI pode ser um instrumento de análise, um ponto de partida para mudar alguma coisa, por muito que desagrade, mas não será possível fazer reformas sérias em semanas.

Passos Coelho veio depois dizer que o relatório «não seria a Bíblia do governo». Uma vez mais começou por «anunciar o intolerável para avançar com o inaceitável», como diria Daniel Oliveira. Mas os portugueses já não aceitam o inaceitável. Entre a forma abrupta de comunicar, os erros em todas as previsões, o estado de recessão que se irá manter em 2013, o desequilíbrio orçamental e o descontentamento generalizado é ora do governo repensar a sua estratégia ou rever se tem condições para continuar. Está cada vez mais em aberto a possibilidade de eleições antecipadas. O país teria muito a ganhar com essa clarificação (e o PSD também). Um governo tem obrigatoriamente de ter uma base social de apoio e a deste já se esgotou. O PS ainda não tem a coragem de as pedir e prefere, como disse Ana Gomes, que o país «bata mesmo no fundo» para depois os socialistas aparecerem como os salvadores e ganharem por muitos e «bons anos». Mas à sua esquerda são já exigidas (para o CDS quanto mais tarde melhor…). Por isso a clarificação poderia ser agora, quando as dificuldades apertam, e todos deviam ser chamados a participar na discussão do futuro do país – os políticos e os portugueses.

2. Quando Bernardino Gata perdeu a concelhia do PSD da Covilhã percebeu-se que o partido estava dividido e tinha arranjado um problema grave: Carlos Pinto passava de referência a adversário. O presidente da Câmara da Covilhã não se fez ouvir e “saltou fora”. O PSD na Covilhã ainda não tem candidato, está desorientado e, pior, vê como Pedro Farromba passa de vice-presidente laranja a candidato independente com o apoio implícito de Pinto. O PS percebeu que pode finalmente regressar ao poder, aproveitando a divisão nas hostes sociais-democratas, e que o seu principal rival pode nem levar as cores do PSD, por isso ataca já Farromba por o seu discurso de “entrada” ser virado para questões sociais. O candidato, que contará com o apoio de Pinto, sabe que é na área social, entre os idosos, os desempregados e as famílias com menos rendimento que poderá atrair novo eleitorado, ao mesmo tempo que conta com os até agora apoiantes e eleitores de Carlos Pinto (e do PSD). O PS pode ficar mais perto do poder, pelas divisões à direita, mas para já quem tem de estar verdadeiramente preocupado é o PSD que não tem candidato, nem estratégia e, talvez, nem apoiantes notáveis.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Covilhanense migper@gmail.com
Comentário:
Pois…mas acontece que também no PS Covilhanense há divisões. Esperemos por Carlos Casteleiro e veremos que para o PS as coisas não estão assim tão fáceis…
 
pedro koldofox@gmail.com
Comentário:
Um Farromba mal preparado e que só tem peso porque o Pinto o leva às costas… pode chegar a presidenta da câmara da Covilhã! Inacreditável! Somos mesmo parolos!!!
 

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