Uma máquina de fazer gelados, carros de brincar, mochilas novas e uma máquina fotográfica são alguns dos presentes que as crianças do Refúgio Ana Luísa, na Guarda, pediram ao Pai Natal. Pedir não custa e a fé no “velho de barbas brancas”, apesar de inabalável, não é tudo: «Gosto de brincar aqui com os meus amigos, somos muito felizes. O Natal é paz, amizade e carinho», diz Filipa.
Já Patrícia partilha a sua experiência na criação do ambiente: «Enfeitei isto com os meus amigos. Gosto de tudo no Natal: dos presentes, das luzes a piscar e da árvore». Margarida Santos, diretora pedagógica do Refúgio, não para enquanto se ultimam os preparativos da festa natalícia em que estão todos juntos. O Natal chegou mais cedo e, no final da ceia, os mais pequenos já abrem as prendas, doadas por entidades locais. Mas isso não é o mais importante: «Alguns nunca festejaram e não sabiam o que era o Natal até chegarem aqui. Ficam admirados com uma árvore tão grande e com o presépio», adianta a responsável, acrescentando que «estão ansiosos, é a época que mais gostam». Após a ceia antecipada da última quinta-feira, com direito a peru, filhós e bacalhau, as sete crianças separaram-se e vão comemorar a quadra em sítios diferentes.
Pela primeira vez, três delas passam as festas com as respetivas famílias, também a instituição não fechará portas desta vez. «Temos três bebés, um deles entrou hoje [quinta-feira] com apenas 10 dias, pelo que não beneficiariam em sair. O melhor para eles é ficar no mesmo ambiente, até porque ainda não percebem que é Natal», explica Margarida Santos. Já uma criança de dois anos vai passar a quadra com a diretora pedagógica: «É a única dos que ficam que já percebe que é Natal. Vai ser a festa dela, para que possa viver tudo em pleno», refere. Desde 30 de novembro que o Refúgio vive em ambiente natalício: «Decorámos tudo com as crianças, aproveitando o facto de duas fazerem anos. Também contamos todos os dias uma história e procuramos filmes de Natal na televisão», indica.
Além disso, a instituição e os seus utentes são convidados para festas de Natal e «as crianças ficam muito contentes por brincarem com novos amigos», salienta Margarida Santos, que também confirma que a instituição recebe «muitos presentes e roupa nesta altura». Na Aldeia SOS, a maioria dos menores permanece na instituição, onde, na noite de consoada, o diretor e os funcionários trazem as famílias e juntam-se aos mais novos. «Ficam contentes por estarmos em família, que é o compromisso que assumimos desde o primeiro momento», declara Mário Baudoin, diretor da Aldeia. «A sua felicidade é o melhor retorno, pois sentimentos que percebem que estamos sempre com eles», adianta.
Já na Casa da Sagrada Família, o sentimento é de família e «as crianças integram-se bem, participam em tudo com a comunidade religiosa, desde festas a passeios», afirma a Irmã Rosa Maria, diretora da instituição. «Construíram um presépio ao longo do tempo do advento e enfeitaram um pinheiro», acrescenta a responsável, satisfeita com a alegria das crianças. E, para os mais pequenos, o Natal é mais do que os presentes: «Ficam na expetativa, a pensar se vão receber o que pediram. Todavia, mesmo quando isso não acontece e é igual para todos, ficam contentes e nós também», sublinha.
Guardenses já não doam tanto como antes
As três instituições admitem que as doações são inferiores a anos anteriores, mas agradecem a ajuda da população, que continua a dar o «suficiente». É esta a ideia que partilham os diferentes responsáveis. Apesar dos custos adicionais, comuns a todos, «a comunidade envolvente está muito preocupada e esforça-se por partilhar connosco», afirma a Irmã Rosa Maria. Contudo, os gastos com livros e material escolar «pesaram» particularmente há poucos meses. Mário Baudoin, da Aldeia SOS, confessa o mesmo problema e lança um apelo: «Precisamos de alimentos e material escolar».
Sara Quelhas