São guardenses e este Natal vão celebrar a data longe da família. A emigração foi o último recurso de uma geração sem oportunidade para mostrar o que vale no seu país e, nesta que é a quadra dos regressos, muitos deles estão demasiado longe para voltar. É o caso de Ana Rita Martins e Daniela Sebastião, que, pela primeira vez, não podem festejar as festas com a família.
Ana Rita Martins tem 23 anos e está em Lausanne (Suíça) desde julho. Depois de terminar a licenciatura em Serviço Social, arriscou sair de Portugal visto que «as perspetivas de trabalho eram péssimas», adianta via email. Para ela, recordar o Natal é falar na mãe, com quem celebra a quadra desde os 10 anos de idade, altura em que o pai faleceu. Após o jantar da Consoada seguia-se o encontro com os tios junto ao madeiro e, no regresso a casa, a abertura das prendas. «A minha mãe é o elemento que mais falta me vai fazer, já que estou habituada a ter sempre a sua companhia», admite a jovem guardense, admitindo que «é doloroso estar fora do nosso país, da nossa casa. São pessoas, culturas e educações completamente diferentes».
Porém, esta é uma altura mais difícil do que as outras, uma vez que «fica sempre uma grande nostalgia por estarmos longe de quem mais gostamos», confessa Ana Rita. A mãe devia deslocar-se à Suíça, mas uma alteração de planos inesperada impossibilitou esse reencontro. «Este ano vou passar o Natal com uns amigos da minha família, que me acolheram nesta nova fase da minha vida. Aqui festeja-se mais o dia 25, a noite da Consoada não é tão importante», adianta a guardense. Por sua vez, Daniela Sebastião tem 24 anos e está em Rugby (Inglaterra), como O INTERIOR noticiou há um mês. A guardense, que emigrou em maio, vai também comemorar esta data longe pela primeira vez. «A tradição era passar o Natal em casa do meu avô com toda a família. Desta vez, haverá um elemento a menos lá em casa, e eu também sinto a falta daquele calor humano», confessa a enfermeira.
O momento era sinónimo de partilha: «O convívio, as gargalhadas, o carinho, o calorzinho da lareira e a espera dos mais novos pelo Pai Natal era já uma caraterística desta época. Sinto falta do lema “todos juntos”», admite. Para Daniela, a «verdadeira» celebração será daqui a algum tempo, pois «vamos procurar mudar a época do Natal para quando estivermos todos juntos», refere. Esta altura é, portanto, especialmente custosa para a jovem, que este ano passa o Natal com o namorado e um casal amigo, que tem duas filhas. A história de Eunice Ramos é diferente. Com 34 anos, encontra-se em Doha (Qatar) desde dezembro de 2010, onde é produtora técnica. «Aqui, o Natal apenas difere do da Guarda porque estão 25 graus», afirma a guardense. Para ela, as comemorações desta quadra lembram «a falta de honestidade e amor entre as pessoas. E este mês sem frio nem parece dezembro, apesar de eu adorar sol», confessa.
O país é «pequeno» mas a variedade de nacionalidades e de cristãos faz com que todos celebrem o Natal. «Também é uma forma de se fazer dinheiro, já que as montras das lojas estão decoradas a rigor e os hotéis organizam a Consoada para quem não quer estar em casa», conta a produtora. Apesar de não ser um hábito de Eunice Ramos, as pessoas oriundas do mesmo país costumam reunir-se «até porque, por norma, passam muito tempo juntas. E depois, como estão longe das famílias, acabam por se reunir para festejar».
Sara Quelhas 
