P – Que motivos o levaram a recandidatar-se?
R – Quando me candidatei no ano passado, construí um projeto em conjunto com a minha equipa denominado “Liga-te à Academia”, que visava precisamente passar uma mensagem de ligação entre a comunidade estudantil. Uma ligação não só interna, no seio da Associação Académica, que é muito grande, com todos os seus núcleos e secções desportivas e culturais, mas também com os estudantes, nem sempre fáceis de manter em união, uma vez que são mais de 20 mil. Reparámos também que a AAC necessitava de algumas mudanças internas, até porque atravessava grandes dificuldades a nível de estrutura e financiamento. Contudo, para levarmos a cabo os projetos a que nos propúnhamos, concluímos que seria necessário mais algum tempo e foi daí que surgiu esta recandidatura, para manter a necessária estabilidade e continuar o trabalho que foi desenvolvido ao longo deste último ano.
P – Esperava ser eleito logo à primeira volta, com uma vantagem confortável como a que conseguiu? Que importância tem este resultado?
R – O nosso objetivo era vencer à primeira volta para conseguir maioria absoluta e trabalhámos nesse sentido. Olhámos também para esta eleição como um “julgamento” ao trabalho que fizemos no último ano e o resultado deixou-nos bastante satisfeitos. A vitória era expectável, uma vez que as listas opositoras não eram tão fortes como no ano anterior e isso refletiu-se também na votação. Há um ano houve necessidade de uma segunda volta e votaram mais de 10 mil alunos, enquanto este ano apenas três mil o fizeram. Porém, não contava com uma vantagem tão alargada. Admito que sabe bem e, a meu ver, confere-nos outra legitimidade e dá-nos mais força para continuar o nosso trabalho.
P – Que balanço faz do seu primeiro ano como presidente da Associação Académica de Coimbra?
R – Penso que foi um mandato bastante positivo, sobretudo na nossa principal missão, que é o apoio aos estudantes e a defesa dos seus direitos. Conseguimos voltar a pôr a Associação como centro de informação, crescendo bastante em termos de mediatismo, muito por causa das ações irreverentes e reivindicativas que temos levado a cabo para colocar na ordem do dia os problemas do ensino superior. No entanto, é-nos apontado o facto de nos termos ficado por ações simbólicas e não termos partido para ações de força, embora para mim não haja uma separação clara entre umas e outras, pois ações são ações e devem servir sobretudo para chamar a atenção e sensibilizar. O resto do trabalho faz-se apresentando ideias e sugestões para alterar aquilo que consideramos não estar a ser bem feito, e nisso penso que trabalhámos bastante bem.
P – Quais as principais medidas que pretende implementar neste segundo ano à frente dos destinos da Associação Académica de Coimbra?
R – Vai ser certamente um ano mais difícil e mais desafiante que o primeiro. Falta dar um passo em frente na qualidade do trabalho que temos vindo a desenvolver e a responsabilidade é redobrada. Procuraremos aumentar a nossa produção de conhecimento, pois a academia tem de ser cada vez mais capaz de trazer ideias para a discussão política. A nossa ação será centrada sobretudo no abandono escolar, no financiamento das instituições, na ação social e na reestruturação da rede de ensino superior. Nas áreas do desporto e da cultura, o objetivo passa por manter o bom trabalho que tem sido feito. Neste segundo ano queremos também dar mais transparência e ter maior participação dos estudantes na associação, e ainda melhorar a nossa política de comunicação e a nossa eficiência de trabalho de forma a estarmos mais preparados para os problemas que temos de enfrentar. A nível político, a nossa postura vai ser ainda mais agressiva e defensora dos estudantes e da juventude portuguesa. Vamos continuar a apresentar soluções concretas para continuarmos a ser ouvidos e tidos em conta pela universidade e pela tutela.
P – Qual a sua posição perante os cortes orçamentais anunciados pelo Governo para o Ensino Superior?
R – Somos completamente contra e manifestámos essa posição imediatamente após a aprovação do Orçamento de Estado. É um corte que vem deixar as instituições numa situação delicada, pondo em causa a qualidade do ensino e da investigação. Exigimos que as universidades tomassem uma posição, o que aconteceu, e foi também graças a essa pressão que o Governo acabou por recuar. Foi uma vitória do movimento associativo, mas o certo é que o corte continua a existir, ainda que mais reduzido, e vai causar problemas. O Estado tem de perceber que não pode investir cada vez menos no ensino superior e passar essa fatura para os estudantes, que já pagam a terceira propina mais alta da Europa. Tem de perceber também que não pode continuar a cortar no financiamento às universidades, como vem fazendo consecutivamente desde 2005. As instituições têm aguentado, mas chegou-se a um ponto em que já não há margem para suportar mais cortes. Esta situação só põe em causa o futuro de Portugal, porque um país que quer atingir metas como assumiu de, em 2020, estar a acompanhar os países da Europa a nível de emprego qualificado, inovação e formação, tem de apostar mais no ensino superior, e não optar por um caminho de cortes constantes no financiamento.
P – Como vê a difícil situação económica que os estudantes universitários atravessam e que medidas podem ser tomadas no que concerne à ação social?
R – É o problema que mais nos preocupa e por isso mesmo é um dos nossos pontos-chave. O abandono escolar é algo que ainda não está medido, pois não há mecanismos para o calcular, e neste âmbito as associações académicas, em conjunto com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, vão criar um grupo de trabalho para estudar o fenómeno, identificar casos e tentar preveni-los. É preciso que as universidades garantam que os cortes no financiamento estatal não afetarão os serviços de ação social e é também fundamental sensibilizá-las para que não voltem a atualizar a propina face à taxa de inflação. Foi essa atualização que fez com que a propina máxima passasse os mil euros no ano passado. O mesmo poderá acontecer este ano e é preciso que as universidades percebam que não é esse bocadinho que tiram a mais a cada estudante que lhes vai resolver os problemas. A nível social, é urgente pensar num novo regulamento de atribuição de bolsas. Presentemente, as bolsas estão a ser pagas a tempo e horas, o que temos de elogiar, mas continuam a deixar de fora muita gente necessitada. Numa altura como esta, em que o país tem de se preparar para o futuro e precisa de mais gente no ensino superior, não se pode abdicar de estudantes que estão ou querem entrar na universidade mas não têm possibilidades. A verdadeira resposta tem de vir do Estado e passa por olhar para a ação social e para a atribuição de bolsas de uma outra forma. É isso que temos de continuar a exigir.