Vivemos períodos de ajustamento económico no equilíbrio necessário entre oferta e procura. Bem extensos, para nosso infortúnio. Com as consequências que todos conhecemos. Basta olhar à nossa volta. A Guarda paralisou. Entrámos num processo de empobrecimento coletivo que nos obriga a uma grande reeducação dos nossos comportamentos de consumo, com implicações fortíssimas sobre o setor do comércio e serviços, o qual a Associação do Comércio e Serviços do Distrito da Guarda representa. Do outro lado temos que também pensar na reeducação da oferta, onde se inclui todos aqueles que são responsáveis pelas estratégias de política económica do nosso país. Em suma, temos que sair da ilusão em que vivemos durante tantos anos.
Desta crise surge a inevitável mudança de estratégias que nos levam ao regresso às origens. Refiro a nossa ruralidade, que no passado foi fonte de riqueza; uma ruralidade esquecida e desprezada. Hoje, sem outras alternativas, aqueles jovens com formação superior poderiam constituir-se numa grande oportunidade de devolvermos a este setor a sua beleza, o seu prestígio e a sua rentabilidade. Afinal, tem a Guarda outras vantagens competitivas mais fortes que apostar naqueles produtos com forte tradição e que tão bem simbolizam a região? Estas atividades, integradas com políticas de desenvolvimento do turismo agregam um valor de requinte e memórias ao mundo rural, essencial para captar novos perfis de empresários. Temos que fazer diferente, com estilo, com atenção ao design e à arte, apelando ao bom gosto.
Se analisarmos os dados que nos são disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística constamos que 80% do volume de trabalho agrícola tem natureza familiar e que as empresas agrícolas apenas representam 2% do total de explorações do país. Em Portugal entre 1999 e 2009 reduziu-se o número de explorações agrícolas em 27%. No caso da Beira Interior, por exemplo, perderam-se 13 mil hectares de olivais… Na caracterização do produtor agrícola constatamos que o produtor típico tem 63 anos, o 1.º ciclo do ensino básico, nunca teve nenhuma formação agrícola, apenas a prática.
Há muita coisa a fazer para tornar a agricultura numa atividade lucrativa, mas são inúmeros os casos de sucesso, sobretudo quando se trata de produtos endógenos onde temos condições naturais excecionais. Até mesmo o setor agrícola poderá ser uma boa oportunidade para as reconversões dos empresários do comércio e serviços.
Acreditamos que um maior foco em políticas de desenvolvimento do mundo rural deverão dar ao distrito da Guarda uma maior sustentabilidade no seu desenvolvimento económico; em equilíbrio com atividades comerciais e de serviços, que deverão continuar a ter uma importância grande no distrito.
Paulo Manuel
* Presidente de Direção da Associação de Comércio e Serviços do Distrito da Guarda (ACG)