Muitos têm sido os sinais, demonstrados por este Governo do PSD/CDS, de completo desconhecimento dos problemas que assolam o país, no geral, e o interior em particular.
À falta de conhecimento recorre-se aos favorecimento das máquinas partidárias para ir mantendo um punhado de fiéis seguidores que possam ir defendendo o indefensável.
Brindou este Governo a Guarda e o seu distrito com mais um folhetim político-partidário, ao demitir, do modo como demitiu, o Conselho de Administração da ULS da Guarda.
Porquê agora? Confesso que fiquei surpreendido, não pela demissão, mas pelo timing da mesma. Protegeram o Conselho de Administração quando a presidente do mesmo “inventou” a utilidade pública da transferência do marido com salários acima daqueles que podia auferir, esqueceram mesmo o estatuto dos gestores públicos e em nada a beliscaram. Depois, perdoaram-na quando esta o nomeou para auditor interno. Usaram-na, sem que a mesma se importasse com isso, para dar a cara pela paragem das obras do novo hospital que não querem construir na Guarda. Permitiram a perseguição de pessoas dentro do Hospital Sousa Martins, a começar por membros do próprio Conselho de Administração. Parece que esperaram que a mesma tivesse concluído o acordo com o consórcio para a desistência do mesmo em relação à construção da 2ª fase (e com isto condenar a realização da mesma) para a demitirem.
Tudo isto aconteceu, foi do conhecimento público com a completa conivência da tutela e das estruturas partidárias locais.
Mas foi a mesma tutela que há cerca de três meses tornou público a existência de um relatório arrasador da autoria da Direção-Geral de Saúde. O que aconteceu então? Nada. Como se compreende que se tenha esperado três meses?
Poderá, à boa maneira do povo beirão, o nosso leitor estar a pensar: “Mais vale tarde que nunca!”.
Curiosamente assim que se soube que era desta que o Conselho de Administração caía, alguns dirigentes locais, que nunca nada disseram ou fizeram, apressaram-se a fazer declarações sobre o assunto. E assim começou a folhetim político-partidário.
Na ânsia (e necessidade pessoal de afirmação junto da população do concelho da Guarda), chegou a afirmar-se, sobre a vinda de pessoas da Cova da Beira, «Isso está fora de hipótese. Nunca deixarei». É impressão minha ou afinal deixou? Será que estou enganado ou a pessoa que presidirá ao novo Conselho de Administração vem precisamente da Covilhã?
Mas as afirmações não se ficaram por aqui, afirmou o mesmo dirigente que, tendo em conta que existem ao nível da saúde questões de âmbito regional, «não ficaria sossegado» se os membros do Conselho de Administração fossem oriundos de Castelo Branco ou da Covilhã. O problema nesta afirmação (mesmo concordando com ela a 100 por cento) foi ter acontecido precisamente aquilo que se disse que nunca se aceitaria.
Depois de uma reuniãozita com o sr. ministro da Propaganda, o tristemente famoso “dr.” Relvas, onde lhe foi comunicado que, afinal, o «Nunca deixarei» era mesmo realidade por imposição nacional, com clara cedência a outros dirigentes locais com verdadeira força (leia-se presidente da Câmara da Covilhã), ao referido dirigente local só restava uma saída com honra, demitir-se.
No entanto, a honra não se compadece com o calendário e a gestão da carreira política pessoal, e assim sendo, mais vale esquecer a humilhação, fazer de conta que nada se disse e esperar que os jornais vão parar ao caixote do lixo ou ao papelão e as declarações às rádios caiam no esquecimento.
A este dirigente deixo um conselho: faça como o candidato à Câmara da Guarda pelo seu partido, remeta-se ao silêncio. Neste ou noutro qualquer assunto, faça de conta, como ele faz, que não é nada consigo.
Dou-lhe este conselho por um motivo simples. Se uma candidatura à Câmara Municipal pode ser construída com base na ausência e no mito do sebastianismo, uma candidatura à Assembleia Municipal também o pode.
O que me preocupa enquanto cidadão da Guarda é que enquanto estes senhores se dedicam à gestão da sua carreira política, o Governo nomeou um Conselho de Administração que mais parece uma Comissão Liquidatária do Hospital Sousa Martins. Só espero que não tenham tempo para pôr em prática o compromisso do Governo PSD/CDS de acabar com as estruturas de saúde na Guarda em detrimento da Covilhã.
Por: Nuno Almeida
* Presidente da concelhia do PS da Guarda