Imaginem que um tipo é director de um Serviço de Ginecologia e nunca lá vai. Imaginem que ele dirige vinte anos uma instituição e nunca lá põe os pés. Imaginem que uma doutora faz um toque vaginal com uma mão na coisa e outra no telemóvel. Imaginem que uma ecografia trans-rectal se realiza com uma mão na sonda e outra num cigarro. Pensem que há pessoas que podem entrar sem máscara numa sala de bloco operatório e outras conversam horas aos telemóveis enquanto doentes esperam. Imaginem que um médico é insultado por outro à frente de doentes e com a doente que o procurou acordada numa cama. Imaginem que um médico invade um quarto de uma doente e a insulta porque defendeu um colega de que ele não gosta. Imaginem-se com o advogado a quem protestam isto tudo e ele vos fuma para cima enquanto masca buble-gum. Imaginem por instantes que um mecânico vos roubou uma peça nova do carro para vender a um migo, ou que um polícia vos agride por engano, ou que um jogador de futebol é pontapeado por dirigentes desportivos, ou que o marido chega a casa bêbado e bate na vossa filha. Imaginem que um juiz não leu um dossier e sois injustamente presos. Coloquem a hipótese remota de um advogado vos roubar. Agora pensem no Rui que caiu de uma varanda acabada de construir e que partiu as pernas e os braços. Partiu a cabeça, fez dez cirurgias, pediu indemnizações e ainda ninguém lhas pagou. Pensem que os seguros acham que a culpa é do construtor, que o construtor tem seguro, que o dono da casa pediu indemnização ao construtor e este à seguradora. A culpa por certo é do Rui que estava pesado demais para aquela varanda e portanto não recebe nada. O que mais espanta o meu corpo é que esta imaginação é toda verdade e eu vi. Ora bolas…
Por: Diogo Cabrita