1. Em 2011, ao ser informado que lhe fora atribuído o Prémio Camões pela sua obra, Manuel António Pina respondeu que era a coisa mais inesperada que poderia esperar. A sua humildade e despojamento contrastavam com a riqueza e diversidade da sua obra, que inclui poesia, ensaio, literatura infantil, peças de teatro e, crónica.
Manuel António Pina, jornalista e cronista, nascido no Sabugal em 1943, deixou-nos. Homem de letras, cronista, cidadão dedicado, Prémio Camões em 2011, a sua obra poética está reunida no volume “Todas as Palavras” (Assírio & Alvim). Não foi apenas a região que perdeu um filho ilustre, o autor de “Ainda Não É o Fim Nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde” era um dos maiores nomes das letras portuguesas da contemporaneidade.
Muito para além do jornalista, ele que durante 40 anos esteve ligado ao “Jornal de Notícias”, Manuel António Pina será recordado pela poesia (com humor incomum) e pelos livros infantis que escreveu e fizeram as delícias de gerações de crianças. “Por outras palavras”, Pina além de escritor e poeta era um cidadão que usava as palavras para refletir sobre o mundo que o rodeava, que nos rodeava, e nos conduzia por «formas de o fazermos um bocadinho melhor». As suas palavras vão continuar por aí, para nos darem prazer e nos obrigarem a pensar, mas com o seu desaparecimento vão fazer-nos falta as palavras que não chegou a escrever. Eduardo Lourenço confessou quando o “descobriu” estar perante «um enorme escritor» perante cuja memória nos dobramos.
O Prémio Manuel António Pina, que a Câmara da Guarda em boa hora implementou, foi, é e será uma justa e merecida homenagem que contribuirá para fazer perdurar a memória de um homem simples mas de extraordinária grandeza.
2. O encerramento e venda do Hotel de Turismo pela Câmara da Guarda ao Turismo de Portugal foi um erro grosseiro de gestão e uma lamentável decisão política.
Três anos depois da venda do imóvel temos, no centro da cidade, um edifício de interesse económico, social e arquitetónico em avançado estado de degradação e abandono. Extinguiu-se o mais emblemático complexo de turismo da cidade e região e o hotel-escola não nasceu.
O projeto de escola de turismo, de interesse duvidoso e futuro improvável, existia apenas na cabeça de alguns que não perceberam nem conseguiram aquilatar o quanto o mundo estava a mudar.
Se até agora só havia dúvidas quanto ao futuro do Hotel de Turismo, agora há algumas certezas. Desde logo, que o Turismo de Portugal não tem dinheiro para avançar com o projeto previsto (nada que nos surpreenda, se bem que dinheiro já não havia quando foi adquirido…). Depois, que o projeto de escola de turismo era um erro por estar desajustado e não ser exequível – como se percebe pela desistência. Por último, que a entidade que embarcou na compra do Hotel de Turismo (por influência política e sem critério económico ou empresarial) há muito que não sabe o que fazer com o imóvel.
Sem ideias ou projetos para o local, o Turismo de Portugal quer vender. E vender depressa que o Estado precisa de dinheiro. O problema é que não há mercado. Por isso, o Turismo de Portugal fala até da possibilidade de concessionar ou arrendar a quem quiser, para o que quer que seja, pois se nada for feito em breve a degradação do imóvel será irreversível.
Luis Baptista-Martins