1. Com a economia completamente estagnada, são cada vez mais as empresas em dificuldades. Todos os dias há pedidos de insolvência; todos os dias há comércios a encerrar; todos os dias são rescindidos contratos de trabalho e enviadas mais pessoas para o desemprego. É assim no país, mas também na região. Desde o encerramento da Delphi que o desemprego cresce e, para piorar a situação, com a crise e a falta de financiamento entra-se num profundo estrangulamento empresarial. No último ano, vítimas da falta de liquidez e da insuficiência de financiamento, definharam na região várias empresas.
Estranhamente, o apoio à atividade empresarial devia chegar, e com rapidez, por parte do Estado, da administração pública, que devia ter meios e capacidade para socorrer quem cria emprego e riqueza. O resgate, supunha-se, era precisamente para isso, para financiar a economia e não apenas para pagar salários. Em vez disso, o Estado não só não promove formas de financiamento alternativas nem cria programas de apoio e incentivo à economia, como continua o seu hábito de pagar tarde e a más horas. As entidades públicas estão a contribuir sobremaneira para as dificuldades de muitas empresas que lhes prestaram serviços e não receberam.
É o caso da Câmara da Guarda que ao não pagar aos seus fornecedores está a matar empresas e a destruir postos de trabalho, pois enquanto vai protelando pagamentos vai liquidando os fornecedores. Basta notar três casos do domínio público para nos interrogarmos sobre a responsabilidade do Município da Guarda no flagelo de mais desemprego e mais pobreza: A ARL declarou insolvência com quase um milhão de créditos à autarquia; o grupo Gonçalves & Gonçalves teria a haver pelo menos milhão e meio de euros da Câmara da Guarda (nomeadamente da compra do “Bacalhau” que ofereceu à Ensiguarda); a Chupas & Morrão (e a pedreira do grupo) está a rescindir contratos com os seus 200 trabalhadores, a quem não paga há três meses, e pode encerrar, enquanto a Câmara da Guarda lhe deve milhão e meio de euros. Ou seja, três empresas (ou grupos empresariais) insolventes, que despediram só nos últimos meses mais de 600 trabalhadores e a quem o Município da Guarda deve cerca de quatro milhões de euros – que poderiam ter contribuído para a própria sobrevivência dessas empresas, e que fazem falta aos seus trabalhadores e à economia local. As dívidas da autarquia ajudaram a afundar estas e outras empresas.
Infelizmente não é apenas a Câmara da Guarda, com outros municípios acontecem situações similares de créditos por cobrar, de trabalho destruído e de expetativas de desenvolvimento empresarial liquidadas pelos devedores públicos.
2. Há meio ano noticiámos que o Cibercentro da Guarda não tinha razão de ser e não se compreendia porque era mantido. Mais, referimos que não apresentava contas, funcionava em roda livre e sem controlo de qualquer índole. Era um serviço público que ocupava um dos melhores edifícios da cidade, em plena Praça Velha, e que só custava dinheiro ao cidadão sem prestar qualquer serviço, pois a função para que fora criado há muito se tinha esgotado. Pagava salários a três funcionários que passavam o dia sem fazer nada e a uma diretora que, supostamente, também dirigia uma empresa privada vizinha, a Localvisão. No entanto, há seis meses o Presidente da Câmara da Guarda respondeu-nos que era uma instituição necessária e «fundamental para uma sociedade equitativa». Não era! Fechou! Ninguém deu conta, ninguém sentiu a sua falta! Há muito que devia ter encerrado. Os depauperados cofres do município teriam poupado uns milhares de euros e as cabeças pensantes da autarquia já estariam a estudar outras soluções para instalar no Solar dos Póvoas. Ou talvez não. Porque vendo pelo abandono a que foi votado o vizinho Paços de Concelho (ex-Mediateca) ideias há poucas.
Luis Baptista-Martins
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