Os problemas dos empresários locais, bem como os da comunidade em geral, não se limitam ao fim da discriminação positiva nas ex-SCUT. Depois da polémica que se seguiu à apresentação das mexidas na Taxa Social Única (TSU), por parte de Pedro Passos Coelho, foi a vez do ministro das Finanças apresentar medidas alternativas. Na semana passada, Vítor Gaspar informou os portugueses do que vai mudar e que vai afetar também, inevitavelmente, as empresas e a economia da região.
António Oliveira considera as mudanças no IRS, uma medida «muito mais justa», em comparação com a proposta que envolvia a TSU. No entanto, o presidente da Aenebeira não deixa de referir que esta é uma «situação difícil» e um «momento crítico» para o país. A palavra crise é uma das mais utilizadas pelos empresários que sentem o aumento dos gastos no final do mês. Nuno Rodrigues defende que o conjunto de medidas que se sucedem são «prejudiciais para o país», pelo que «o consumo interno vai baixar» e dificultar, assim, a capacidade de resposta aos desafios apresentados.
A necessidade de ser competitivo esbate na atual conjuntura económica, numa altura em que o fim das isenções, o constante aumento do preço dos combustíveis e dos impostos complicam a subsistência e as expetativas das empresas. António Pedro Santiago assume que, enquanto gerente, está «tão descontente que a solução seria “varrer” com os políticos do país». «Vou ser eu a pagar, vai ser a classe média a pagar», adianta, «vamos ter de pagar nós pelo que eles fizeram» e «daqui a dois ou três anos estamos todos inscritos no Centro de Emprego».
Os empresários salientam a importância da indústria e do comércio para a riqueza do país, pelo que não entendem as medidas que têm vindo a ser aplicadas. António Oliveira diz que «o público e as PME (Pequenas e Médias Empresas não podem estar contentes», destacando uma vez mais as consequências do pagamento de autoestradas na região. «Num território com baixa densidade populacional, como o nosso, esta medida vai ter de ser revista, seja neste ou noutro Governo», prevê, «até porque as autoestradas vão ficar cada vez mais vazias no transporte da proximidade, que vai regressar a estradas que não têm capacidade de manutenção para muito tráfego».
António Pedro Santiago também recorre a este campo para realçar o afastamento entre o centro e o litoral, já que «complicaram os transportes», o que resulta numa diminuição de viagens em ambos os sentidos. Assim sendo, as dificuldades inerentes à mobilidade entre regiões, na opinião do empresário, vão «afetar particularmente a nossa região, porque é uma das mais pobres e tem das portagens mais caras da Europa, o que é irracional». Todavia, esta dificuldade também afeta os espanhóis que antes visitavam Portugal e que, agora, «não sabem como pagar». Para o empresário, este é um sinal de pouca preocupação do Governo face à situação do interior do país.
Esta ideia é suportada pelo presidente da Aenebeira, que refere a urgência de políticas que promovam a «inclusão» do interior e não o seu isolamento, relativamente aos grandes centros. Já Nuno Rodrigues, acredita que a zona centro apenas é mais afetada pelo fim das isenções, sendo «a imagem do país». No seu entendimento, «estas medidas vão afetar todas as regiões da mesma maneira, visto que vai haver menos consumo, mais falências e também mais desemprego» a nível nacional.
António Pedro Santiago vai mais longe e apresenta como possibilidade, em último caso, «passar a fronteira e ir para Espanha», onde «com as políticas que lá têm, talvez seja um pouco melhor». A desilusão deste empresário é sustentada pela inexistência de «visão, política ou estratégias a longo prazo», pelo que «é tudo pelo interesse do momento e de quem lá está». As perspetivas de futuro dos três empresários são marcadamente negativas, já que os avanços da austeridade continuam a provocar o recuo de quem compra, agravando o estado da economia, não só regional, mas também nacional.