Branca, presa num porta-chaves verde, uma bola de bilhar minúscula, um dispositivo informático: uma pen. Encontrei-a no chão, coloquei-a no computador e abri os ficheiros após uma rápida passagem do antivírus. São fotos, quatro pastas. Uma pasta são imagens de uma queima das fitas. Outra pasta são imagens muito íntimas de um casal expondo-se demasiado. Amam-se, fotografam-se enquanto se amam, ela umas vezes, outras ele. São fotos muito soalheiras, afoitas, MinU, U&M, UoverM, reveladoras do prazer tido e assim perpetuado. Ele numa banheira pejada de flores. Outras na cama. A terceira pasta está cheia de objetos de uma casa. São quadros, peças de ouro ou prata, joias e outros testemunhos de possuir. Devem ser provas para seguradoras. Peças bonitas. A última pasta tem poucas fotos. A mulher das imagens quentes testando vestidos. Cor, formas femininas salientes, mais ou menos busto, mais ou menos pernas. Parece um teste para um casamento ou uma cerimónia. A pen é um espaço privado. Não a conheço nem ao homem. A devolução está comprometida, pois não reconheço ninguém. Se a mostrar estou a revelar intimidade, a expor confidências. Se a guardar, parece que sou um tarado a arquivar os momentos dos outros. Deitar fora é entregar a uma nova roleta. Esta vez fui eu, mas amanhã alguém que pode não ter moral nenhuma. Confesso que volto a abrir a pasta Mais quente e sinto algum calor com aqueles evidentes sinais de excitação perpetuada. Bem, há que usar a educação que a mãe nos deu: apago tudo e piso a pen. Não será de mais ninguém.