O distrito da Guarda vai passar a ter mais uma deputada brevemente. No entanto, Christine Pires Beaune não vai tomar posse na Assembleia da República, em Lisboa, mas em Paris. Filha de pais oriundos da freguesia de Casal de Cinza, no concelho da Guarda, a socialista foi um dos três luso-descendentes eleitos no último domingo para a Assembleia Nacional francesa.
Christine Pires Beaune, de 47 anos, foi eleita na segunda circunscrição de Puy-de-Dôme (500 quilómetros a sul de Paris), com 59,5 por cento dos votos, derrotando o candidato da direita (a UMP de Sarkozy). A parlamentar tornou-se assim na primeira representante dos primeiros filhos de portugueses emigrados em França nas gerações de 1960-80 – o seu pai foi operário metalúrgico e a mãe empregada doméstica – a sentar-se na Assembleia Nacional. Em declarações a O INTERIOR, a recém-eleita deputada adiantou que «foi uma grande emoção ver cidadãos franceses demonstrarem confiança numa filha de emigrantes e um grande orgulho para a minha mãe e restante família». De resto, a socialista acredita que a comunidade portuguesa «tem orgulho» da sua eleição, considerando que a sua dupla nacionalidade é uma «riqueza». Christine Pires Beaune disse que mantém familiares em Casal de Cinza e também na Guarda, nomeadamente «tias, tios e primos».
Costuma vir a Portugal, normalmente de «três em três anos», mas ainda se recorda de «não haver água, nem eletricidade nas casas» da aldeia natal dos seus pais, tendo o desenvolvimento sido «fulgurante» quando o país entrou na Comunidade Europeia em 1986. Em declarações à agência Lusa realçou ainda que tem a «vantagem de ter dois países e duas culturas», daí ter «uma sensibilidade maior para os problemas dos portugueses. Mas, embora tenha muito orgulho nas minhas origens, é preciso dizer que esta não é uma candidatura da comunidade portuguesa», sublinhou. Christine, que era conselheira municipal em Volvic, uma cidade com uma forte presença portuguesa, considerou que rumar à Assembleia Nacional é «um passo normal» depois de 20 anos de vida política: «Sou simpatizante de sempre do PS e filiei-me em 1998. Desde então que tenho ocupado cargos políticos. A política é o meu quotidiano. Tenho um grande interesse pela coisa pública e pela vida das pessoas», salientou a nova deputada.
Ricardo Cordeiro