Formado na Associação Desportiva da Guarda, onde viveu alguns dos momentos áureos do clube que deixou de ter futebol há mais de uma década, José Pedro Henriques é um dos jogadores em atividade que mais clubes representou no distrito. Ao todo, já passou por 10 clubes, sendo 9 do distrito, tendo alinhado por várias épocas na IIª e IIIª Divisões Nacionais.
Quase a completar 41 anos, Zé Pedro, como é conhecido no “mundo do futebol”, alinhou no Sporting do Sabugal, onde se estreou como sénior na IIIª Divisão Nacional, Desportiva da Guarda, Tondela, Gouveia, Mileu, Celoricense – com o qual se estreou no Distrital da Guarda, Souropires, Figueirense, Foz Côa e Soito, na última época. Apesar deste currículo, o veterano jogador garante que nunca perdeu tempo a pensar na matéria: «Nunca tinha pensado nisso a sério. Costuma dizer-se que o passado é história. Sou acarinhado quando vou jogar ao campo de clubes que já representei, mas não sou muito de ligar a essas coisas», adianta o atleta que nasceu em Luanda, mas que reside na Guarda desde criança. O defesa mostra-se «orgulhoso» com o seu trajeto futebolístico e não hesita quando lhe perguntam qual o clube que mais o marcou. «A Desportiva há-de ser sempre única. Podem aparecer mais clubes, mas há coisas que não se podem apagar. Foi o clube que mais me marcou pelos anos que lá passei, por ter jogado na IIª Divisão e também pela mística que havia. As pessoas da cidade sentiam o clube», recorda com nostalgia.
Na altura, Zé Pedro era profissional de futebol, treinava duas vezes por dia, algo que relaciona com a boa condição física que ainda ostenta, e lembra que «íamos a qualquer estádio do país e toda a gente conhecia a Desportiva». Assim, foi com «tristeza» que o jogador acompanhou o desaparecimento do emblema que era uma referência na cidade e no distrito, frisando que o «grande problema foram os protagonistas da altura, que geriram mal o clube». Um dos jogadores mais veteranos do Distrital da Guarda lamenta que a capital de distrito «não tenha um clube de referência», considerando que, atualmente, «há muitos para uma cidade tão pequena» que tinha condições para um clube «se afirmar numa IIIª Nacional». De resto, garante que «muitos jogadores da Guarda gostavam mais de jogar num clube da sua terra do que fazer cem quilómetros ou mais para jogar noutro sítio». Para já, o atleta ainda não pensa em pendurar as botas e «provavelmente» vai continuar a representar o Soito, até porque «mudar para ser só mais um não vale a pena».
Ao longo da sua extensa carreira, Zé Pedro jogou em clubes com diferentes objetivos, mas refere que encontra «sempre alguma coisa» que o motive e que todos os clubes têm «os seus pontos de interesse». No entanto, o principal é que «o amor pelo futebol continua a ser o mesmo» e que todos os domingos ainda sente a falta do «“bichinho” e da adrenalina da competição». Deixou de ser profissional em 2000, quando foi jogar para o Desportivo de Gouveia, altura em que nasceu a sua filha, e desde então que é motorista numa instituição de solidariedade social da cidade. Olhando para trás, Zé Pedro diz que é «relativo dizer que tinha condições para ter chegado mais alto» na sua carreira, recordando que nunca teve empresário.
Ainda assim, revela que chegou a ter um «pré-acordo» com o Salgueiros, só que não conseguiu ser dispensado de «ir à tropa» e, passados os nove meses do serviço militar, o interesse do primodivisionário esfumou-se. De resto, admite que sempre foi um «bocado comodista» e, como «estava bem e junto à família», não perdeu muito tempo a pensar naquela possibilidade. Para Zé Pedro, os momentos mais altos da carreira foram os dois títulos de campeão nacional da IIIª Divisão com a Desportiva da Guarda e as boas campanhas na Taça de Portugal pelo Souropires e também pelo clube da capital de distrito.
Ricardo Cordeiro 
