Quando andava na escola primária, no edifício onde é agora a sede da Associação Comercial da Guarda, estávamos paredes meias com um velho solar abandonado, a que chamávamos “Casa Fantasma”. Ao lado, ainda no domínio do solar e junto à muralha, subindo com ela qua até ao “Castelo” havia o que chamávamos “Quintal Medroso”. Este, mesmo maltratado, abandonado, era uma maravilha. Tinha fontes, árvores centenárias, espécies vegetais para nós desconhecidas e que cresciam desordenadamente e se iam espalhando perante a indiferença geral. Foi essa indiferença que permitiu primeiro um incêndio no solar, que quase levou à sua total destruição, e depois ao abate indiscriminado e criminoso da maior parte das árvores dos jardins. Um dia, com vinte anos de atraso pelo menos, o lugar foi expropriado e instalou-se no solar a Biblioteca Municipal e nos jardins um bar. Não tenho ido lá, que continuo a imaginar a dignidade das antigas ruínas e a desordem frondosa e rica do que chamávamos quintal mas era, podia ser, um magnífico jardim. Tanto quanto sei prepara-se para regressar ao abandono e ao esquecimento, mas agora pior do que após o primeiro abandono.
O antigo Cineteatro da Guarda está também fechado, e há mais de vinte anos. Alguém o comprou para ganhar dinheiro com o local mas nada acontece. O edifício, não sendo especialmente belo, mas há quem goste e o ache digno de protecção, destaca-se sobretudo por estar fechado e não ter qualquer utilidade. Há muito tempo também, noutra zona nobre da cidade da Guarda, ardeu o edifício onde estava instalado o Clube de Caça e Pesca. Ardido continua e continua sem utilidade, mas ao menos existem planos para o sítio.
Há também planos para o Hotel de Turismo da Guarda, fechado e vendido há já algum tempo. Foram despedidos os trabalhadores e encerrada a actividade. Aguarda-se agora a abertura de uma escola de turismo, devagar, enquanto os vidros se vão partindo e o edifício se vai degradando cada vez mais. Não muito longe, no largo dos correios, está o prédio que abriga ou abrigou no rés-do-chão o Montepio Geral. Por cima estão vários andares de feia construção por terminar. O andar mais alto paira, em toda a sua esplendorosa fealdade, por de cima de toda aquela zona. É incrível como deixaram fazer aquilo no coração da cidade e o deixam continuar assim, trinta anos ou mais depois do início da empreitada. Não haverá maneira de tornar aquilo menos feio, ou pelo menos obrigar a que se termine a obra? E que tal pura e simplesmente demolir a coisa?
A propósito de demolir teria muito mais a dizer. Fica para a próxima.
Por: António Ferreira