O novo hospital da Guarda foi arma política e promessa dos dois principais partidos. Ana Manso, a actual presidente do Conselho de Administração, do PSD, lutou como poucos para a sua concretização e deve-se-lhe reconhecer um importante contributo para que a ideia tenha passado dos palcos políticos para os estiradores dos arquitectos e, finalmente, para a concretização no terreno. Ao Conselho de Administração anterior ao de Ana Manso, o presidido por Fernando Girão, haverá também que reconhecer mérito na concretização da obra – que, com ou sem exagero, há quem quem considere ser a mais importante realizada na Guarda desde o século XIX. Fernando Girão lutou durante todo o seu mandato por isso. O seu conselho de administração contratou arquitectos e empreiteiros, lutou por financiamentos e conseguiu-os, iniciou a obra propriamente dita e concluiu com sucesso a primeira fase. E, já agora, há também que reconhecer o mérito do projecto de arquitectura, premiado na Bienal de São Paulo.
A primeira fase das obras encontra-se então concluída. A segunda, no valor de 48 milhões de euros, mais IVA, tem aprovado e, julgava-se, garantido o seu financiamento. Este seria suportado a 90% pelo QREN, por isso pela União Europeia, sendo a contrapartida nacional de 10% inferior à receita previsível do IVA (23%). Isto é, a obra iria dar lucro ao Estado, a todos nós. Ficaríamos com o bolo e iríamos comê-lo. A segunda fase das obras começou já, e parou, depois de se executarem mais de dois milhões de euros em trabalhos. A razão da paragem, segundo parece, é a falta de pagamento das facturas vencidas. Isto compreender-se-ia com facilidade, atendendo ao desgraçado estado das finanças nacionais, se o grosso do financiamento não viesse de Bruxelas e se, como disse, a concretização da obra não trouxesse ao país um importante lucro líquido.
Mas parece que não. Depois de tantas promessas de cortar nas “gorduras”, o governo decidiu começar a cortar na carne propriamente dita. E de que maneira o vai fazer! É que a paragem das obras vai obrigar ao pagamento de pesadas indemnizações aos empreiteiros, e há quem fale em dezenas de milhões de euros.
Em resumo, podemos concluir que quem tem poder decisório sobre a concretização da segunda fase do Novo Hospital tinha uma de duas opções: ou cumprir o projecto e trazer para a Guarda uma obra estruturante, compensatória de alguma forma da devastação económica que a região atravessa, garantindo ainda um retorno financeiro para o Estado; ou ficar com uma obra amputada e a obrigação de indemnizar terceiros por incumprimento contratual em montante bem superior ao da receita perdida. Qualquer imbecil, diria eu, saberia qual a melhor solução para o problema mas, infelizmente, temos políticos envolvidos no assunto e a sua lógica vai muito para lá, e para baixo, de Aristóteles ou Francis Bacon.
Há outra possibilidade, também perturbante, e algo insultuosa para nós, guardenses: e se o governo tiver decidido desviar as verbas do QREN destinadas ao novo hospital da Guarda para outro lado?
Por: António Ferreira