P – O Gouveia Art Rock “celebrou” este ano o 10º aniversário. O que representam estes dez anos de rock progressivo em Gouveia?
R – Estes dez anos constituem o percurso de um festival único em Portugal e muito pouco frequente no mundo inteiro. Um percurso iniciado de modo hesitante, dando pequenos passos, mas que rapidamente ganhou desenvoltura e prestígio internacional. Ao longo de dez edições, o Gouveia Art Rock (GAR) promoveu 88 concertos e recitais com nomes consagradíssimos da música progressiva dos quatros cantos do mundo, como por exemplo os britânicos Steve Hackett, Peter Hammill, Robert Fripp, Van der Graaf Generator, Curved Air e Caravan, os holandeses Focus, os belgas Univers Zero e Aranis, ou os japoneses Koenji Hyakkei. Para além disso, o festival publicou DVD’s com concertos e brochuras com ensaios sobre esse género musical, organizou várias mesas-redondas com musicólogos, jornalistas, críticos e músicos e promoveu exposições fotográficas e bibliográficas relacionadas com o mesmo tema. Assim, graças à qualidade posta em todas estas realizações, o GAR ganhou notoriedade internacional e o maior respeito entre músicos e entusiastas da música progressiva, sendo hoje considerado, dentro do género, um dos melhores festivais organizados em todo o mundo.
P – Como tem sido a adesão do público?
R – Tem sido fantástica e gratificante. À exceção da primeira edição realizada em 2003, em todas as outras o Teatro-Cine de Gouveia e a Igreja de S. Pedro têm sido lotadas por um público entusiasta e conhecedor, e de proveniência diversificada. Ao longo das várias edições deste festival tivemos, entre os assistentes, além de portugueses, gente que se deslocou, por exemplo, de países como Israel, Japão, Rússia, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Suíça ou Suécia.
P – Quais são as principais dificuldades inerentes à organização de um festival internacional numa pequena cidade do Interior do país?
R – A principal é a grande distância que separa Gouveia do aeroporto mais próximo, que é o do Porto e fica a quase duas centenas de quilómetros.
Por outro lado, a nossa cidade é mal servida de transportes coletivos, os quais se resumem às carreiras de autocarros que a ligam a Coimbra, o que é manifestamente desencorajador para um estrangeiro que viaje de avião para Portugal com a intenção de assistir ao festival.
P – Que importância tem para o tecido económico da região a realização deste festival?
R – O GAR tem sido importante para a cidade, pois durante três dias atrai a Gouveia centenas de pessoas, a maioria das quais com grande poder de compra, que se alojam nos seus hotéis e unidades de turismo de habitação e lotam os seus restaurantes. O festival promove ainda nacional e internacionalmente o nome do concelho de Gouveia, constituindo o seu maior cartaz turístico.
P – A organização do festival é para continuar? E em que moldes?
R – O festival só continuará a ser organizado se a Câmara de Gouveia assim o entender, já que o suporta financeiramente e o organiza através da empresa municipal DLCG – Desporto, Lazer e Cultura de Gouveia. É que apesar da considerável receita de bilheteira que gera, e de alguns apoios privados, a organização do GAR implica uma logística algo pesada da autarquia e da empresa municipal. Para se ter uma ideia, na edição deste ano estiveram envolvidos quase duas dezenas de funcionários e colaboradores da DLCG – a quem deixo o mais vivo agradecimento pela sua dedicação – para servirem cerca de oitenta músicos e técnicos de som e luzes. Caso a Câmara de Gouveia entenda que o GAR deve continuar, estou convencido que se manterá o figurino que fez dele um festival de grande sucesso: os mesmos espaços, altura do ano, duração e tipo de programação.