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Uma casa cheia de vida

VISITA À CASA DE CAMILO

A viagem fora bastante cansativa. E, honestamente, duvido que, entre os poucos de nós que ainda conseguiam manter os olhos abertos, alguém estivesse com a mínima paciência de fazer uma visita guiada a uma pequena casa antiga. Até porque, por fora, a casa – uma vivenda amarela de dois andares – nem parecia assim algo tão fora do comum como nos queriam fazer acreditar. Contudo, parte desse sentimento desapareceu quando um homem alto, magro, de cabelos brancos, que mais tarde se apresentaria como sendo o nosso guia (o sr. Reinaldo), nos levou numa rápida viagem verbal pela vida de Camilo para que a sua história nos pudesse guiar mais vivamente pelas divisões da habitação.

Todo o ceticismo e aborrecimento que ainda persistiam nas mentes e corpos de alguns acabariam por se evaporar no momento em que todo o ar misterioso e poderoso de tempos antigos nos atingiria na porta de entrada. Tínhamos sido previamente avisados repetidas vezes de que não poderíamos tocar em nada, mas notava-se no rosto de alguns a tentação crescente de quebrar esta regra que fora tão teimosamente em nós instalada.

Durante toda a visita, o nosso guia sempre se certificou de que toda a seriedade e tristeza que rodeava todo o passado daquela casa não nos atingia muito fortemente. Afinal, não é propriamente todos os dias que temos a oportunidade de ver de perto a casa onde um dos maiores escritores portugueses outrora viveu, antes da sua cegueira se agravar de maneira tal que o levaria a pôr fim à própria vida. E o nosso guia soube conduzir-nos com histórias e piadas baseadas, em grande parte, na sua experiência como guia.

É também importante lembrar o estado em que a casa foi mantida: o uso de tapetes e barreiras, assim como de qualquer equipamento moderno, foi evitado ao máximo, com exceção de equipamento de medição e regulação de humidade para evitar danos na habitação. Tudo isto numa tentativa de humanizar um pouco mais a casa e tornar a sua visita mais agradável para os visitantes. Uma tentativa que, devo dizer, teve bastante sucesso.

A mistura do mistério e da aura de uma casa antiga com a triste história de Camilo mas também com a boa disposição e animação do nosso guia voltaram a trazer a todo o grupo aqueles maravilhosos sentimentos de animação, suspense, liberdade e felicidade que se têm – pelo menos inicialmente – em qualquer visita de estudo. Tirando alguns raros casos, já não havia entre nós ninguém que bocejasse. Todo o cansaço havia sido suspenso e voltaria apenas quando todos estivéssemos de novo no autocarro. Foi, sem dúvida, a parte mais marcante e memorável de toda a visita.

Rui Oliveira (10º C)

Uma casa cheia de vida

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