“ Uma vez que a vida é tão curta e frágil, com certeza que cada um de nós devia estar a tentar aproveitar ao máximo cada fôlego, cada momento fugaz. Mas o que significa viver a vida ao máximo?”
Dizem que o “O Grito de Guerra da Mãe Tigre” é um dos livros mais controversos de 2011. Acabei de o ler. E autora Amy Chua, refere no penúltimo parágrafo do seu livro a frase que acima cito.
Muito resumidamente e de uma forma muito simplista o livro retrata a forma de viver a educação e a cultura em dois mundos tão distantes como o ocidental e o oriental, no caso concreto Estados Unidos/ China.
Ao longo da leitura revi-me em alguns episódios que esta mãe retrata – não sei se por ter duas filhas tal como ela, esse exercício mental foi acontecendo naturalmente – com as devidas distâncias, é certo. E levou-me, por isso, a fazer uma análise de que tipo de mãe sou. E bem, confesso que ás vezes sou uma mãe um bocadinho má. Vejo, principalmente nos olhos da minha filha mais velha (a mais nova é ainda muito nova, apesar de já se mostrar mais desafiadora e rebelde que a irmã) algum tipo de desapontamento. Um dia ela disse-me” Para ti eu nunca faço nada bem, estás sempre a dizer que eu podia fazer melhor”. E podia. E não me arrependo de lho dizer. Mas não é verdade que eu ache que ela não faz nada bem e disse-lho. Disse-lhe tudo o que eu achava que ela fazia bem. E que me orgulhava, claro, mas que achava que ela ainda conseguia fazer melhor. Disse-lhe que a achava especial e particularmente bonita. Mas disse-lhe que ser só bonita não chega. Disse-lhe também que a amava mais do que tudo na vida e que a ia amar sempre, mas isso não significava que não a teria de repreender e até de lhe bater quando achasse necessário. Sim porque eu sou daquelas mães que batem nos filhos. ( não se pense que digo isto com orgulho, odeio bater-lhes).
Ser mãe é decididamente difícil. E não é só difícil em relação aos nossos filhos é terrivelmente difícil connosco mesmos. Sabermos se estamos ou não a tomar a decisão certa, se devíamos ceder, se estamos a ser muito rígidos ou muito brandos, se estamos a ser injustos, negligentes, atentos , super protectores… é uma lista infinita de questões.
Depois de ler este livro cheguei à conclusão que sou um bocadinho “mãe tigre”,( comparativamente com a autora , sou uma versão light vá) , no sentido em que a minha forma de educar se distancia em muitos pontos do conceito “moderno”de educar.
As teorias da 1-“liberdade de escolha”, de 2-“crescerem por eles próprios” de 3- “terem direito à sua privacidade” são aquelas que tendo a não concordar. Passo a explicar. Para a primeira os exemplos são que normalmente os pais que dizem isto, entendem que os filhos devem experimentar uma série de coisas/actividades até decidirem o que querem realmente fazer. Ora bem, o que acontece na maioria dos casos é que aquelas crianças não levam a sério nenhuma das actividades e nunca o irão fazer. Não raras vezes ouvimos dizer” Deixei-o (a) experimentar tudo: andou no ballet, depois foi para o piano, desistiu e decidiu que queria aprender viola , mas não gostou do professor e acabou por sair da musica…e até tinha jeito. Depois tinha uma amiga que jogava voleibol e a convenceu a experimentar, mas não durou dois meses, diz que preferia natação, mas as constantes otites fizeram-na desistir.” Esta conversa não vos é familiar?
Depois o “crescerem por eles próprios” que não sei muito bem o que isto quer dizer, mas sei que o que oiço é: “ Eu já lhe disse, pode andar com quem quiser, fazer as amizades que entender, o futuro é dela. A cama em que se deitar… , não me meto em coisas como o cabelo e a roupa, eles têm de procurar a sua identidade, a sua individualidade, o seu estilo”. Ninguém ouviu isto?
E por ultimo vem a” teoria da privacidade” eu não entro no quarto do meu filho sem bater primeiro” “ Hoje estava de mal com o mundo quis comer no quarto, também tem direito a estar sozinho, tem direito à sua privacidade” “ eu nem lá entro, o quarto é dele faz do quarto o que quiser, no resto da casa não, mas o quarto é o seu espaço”. Sou só eu que oiço estas coisas?
Pois eu discordo em tudo. Entendo que as crianças precisam de regras e disciplina, precisam de ser contrariadas e incentivadas (muitas vezes forçadas) a não desistir. Não, não podem ter os amigos que quiserem e eu não os conhecer, nem podem vestir o que quiserem até poderem auto financiar-se o que nos dias de hoje será lá para os 40!! Experimentar ser betinho e gótico e metal, piercings e tatuagens porque andam à procura da sua identidade? Não contém comigo para alinhar nestas palhaçadas.
E a história da privacidade tem muito que se lhe diga…como é que é “ bater na porta antes de entrar” , “ comer no quarto porque está mal disposta com a vida” ? – Era o que faltava eu ter de bater na porta para entrar em qualquer divisão da MINHA casa, e cá em casa não se come nos quartos, nem em tabuleiro no sofá da sala em frente à T.V., a menos que se esteja MESMO doente.
Penso isto hoje – as minhas filhas não são adolescentes ( ai palavra maldita) – e espero pensá-lo sempre. A minha tarefa tem sido preparar-nos para a adolescência delas. Criar bases, para que não seja sequer necessário enfrentar determinadas batalhas, para minorar os conflitos que eu sei que vou ter.
Mas espero sinceramente, que mesmo no auge desses conflitos, as minhas filhas não se esqueçam que eu sou a mãe, que eu não quero ser a melhor amiga delas e que o meu amor por elas é inquestionável, mesmo quando ouvirem os meus nãos e eu conto dizer muitos.
E com isto não espero nada de especial em relação a elas, só espero que sejam educadas, íntegras e minimamente preparadas para a vida, o que exige um trabalho diário e árduo, principalmente meu.
Uma vez que a vida é tão curta e frágil, tento fazer o máximo e o melhor que sei, não tenho certezas de o conseguir, mas jamais poderei ser condenada por não ter tentado.
Leiam o livro, é mesmo bom.
Por: Carla Freira