O anterior texto deste espaço terminou com a referência a uma tempestade solar de grande intensidade, que ficou conhecida por “Evento de Carrington”. Esta tempestade geomagnética provocada por ondas solares ocorreu em setembro de 1859, tendo o nome sido atribuído em homenagem ao astrónomo britânico Richardson Carrington, especialista em manchas solares. A dimensão deste evento foi de tal ordem que causou falhas no serviço de telegrafo em toda a Europa e na América do Norte.
Para além destas alterações na rede de comunicações, este fenómeno cíclico de tempestade solar repercute-se de diferentes formas no planeta Terra. Por exemplo, o campo magnético terrestre é influenciado por partículas, com carga elétrica, emitidas pelo Sol e denominadas vento solar. As intensas erupções provocam uma emissão aumentada destas partículas que alcançam a Terra decorridas 26 horas, em média, e têm como consequência a perturbação da rede elétrica.
A ionosfera, camada mais exterior da atmosfera terrestre, deve a sua existência, para além das manchas solares, à radiação ultravioleta e X do Sol. Quanto ao Sol, este, também, apresenta uma atmosfera formada por uma região mais próxima da superfície do Sol – cromosfera – e por uma zona mais exterior – coroa solar. Esta região mais exterior da atmosfera durante um eclipse solar total, corresponde à zona que se forma em resultado da interposição da Lua entre o Sol e a Terra (fig 1). Regressando à atmosfera terrestre, a ionosfera situa-se entre 80 km e 300 km de altitude sobre a superfície terrestre, sendo esta região a zona onde ocorre a reflexão das ondas de rádio das emissoras terrestres, particularmente, as ondas curtas com comprimento de onda de 10 m a 100 m. As comunicações radiofónicas intercontinentais por meio de ondas curtas podem realizar-se pois, graças à ionosfera e ao Sol. As mudanças que se produzem no Sol provocam também perturbações na ionosfera. Cabe destacar as erupções que emitem radiação ultravioleta e X com uma intensidade muito elevada ao ponto de, praticamente, interrompem a propagação de ondas curtas do lado da Terra iluminado, fenómeno conhecido como “quarto de hora morto”: efeito de Mogel-Dellinger.
Por último, as auroras observadas na Terra também resultam de influências solares. Em 1859, aquando do “Evento de Carrington”, este fenómeno pode ser observado em zonas com latitudes muito diferentes das latitudes polares. Estas auroras, quer boreais, quer austrais, caracterizam-se pelo facto de as partículas com cargas elétricas penetrarem nas regiões polares da Terra, chocando aí com os átomos e excitando-os. A maioria das auroras boreais podem observar-se a uma altitude de 90 km a 120 km sobre a superfície terrestre. As zonas em que, com mais frequência, se produzem as auroras boreais não se encontram nos polos magnéticos nem geográficos, mas numa zona circular concêntrica em volta do polo norte.
Outras supostas repercussões da atividade solar da Terra, por exemplo, sobre o tempo, o clima, a frequência de doenças e outras, são muito discutíveis, estando, neste momento, a ciência focada em demonstrar a existência de uma relação estatística convincente entre o Sol e estes fenómenos.
Por: António Costa