Arquivo

«Gostamos de morar aqui e não trocamos isto por nada»

São 1.912 os idosos que a GNR registou no distrito no âmbito da “Operação Censos Sénior 2012”

As senhoras Marias e os senhores João e Francisco são apenas quatro dos 1.912 idosos registados pela GNR no distrito da Guarda, no âmbito da “Operação Censos Sénior 2012”, direcionada aos habitantes mais velhos que vivem sozinhos e ou isolados. Os concelhos do distrito com mais registos de idosos foram Guarda, Trancoso, Pinhel, Celorico da Beira e Gouveia.

Maria Bento, de 68 anos, e João Romano, de 76, moram há «38 anos» a cerca de três quilómetros de Videmonte, no concelho da Guarda, e a única companhia que costumam ter durante a semana são uma «vaquita» e os seus quatro cães que «dão logo sinal» assim que alguém estranho se aproxima – e há um que é «velhaco», avisam. Aos fins-de-semana recebem a companhia das filhas e dos genros que moram na cidade. Já os vizinhos, cujas casas distam algumas centenas de metros, «passa-se muito tempo sem os vermos», dizem em uníssono. Têm telefone e telemóvel, mas por não ser «desses mais modernos» só tem rede «lá em cima», diz Maria, apontando para um monte. Garantem que «até ao dia de hoje não temos razão para ter receio», que «à noite» fecham sempre a porta de casa e receberam com agrado a ação da GNR: «Então não havíamos de gostar de uma rapariguinha e um rapazinho novos?!», exclama João. Contam que quando têm uma consulta que «vem cá dormir um genro nosso» e asseguram que se sentem bem a viver longe do «povo», apesar de lá terem uma casa, porque «aqui temos mais largueza», diz Maria. Quanto à possibilidade de poderem ir para um lar, riem-se e descartam de imediato. Mais longe, a cinco quilómetros da povoação, moram, desde 1980, Maria, de 79 anos, e Francisco Pina, de 75. Revelam que não se sentem muito sozinhos porque têm a companhia diária de um irmão de Maria e de um filho que trabalha na Guarda, mas que pernoita na casa dos pais. «Nós gostamos de morar aqui e não trocamos isto por nada», diz Francisco, enquanto que Maria revela, entre risos, que «gostava mais de ir para Lisboa, para um palácio». Mais a sério, concordam que «enquanto pudermos, queremos estar na nossa casa e graças a Deus não temos medo de estar aqui». O presidente da Junta de Freguesia fez de cicerone nesta visita e indica que há oito casais de pessoas com mais de 65 anos que moram «isolados» em quintas situadas «entre três a sete quilómetros» de Videmonte. Afonso Proença conta que costuma visitar os idosos «uma vez por semana» e acrescenta que «neste tipo de aldeias há sempre pessoas a visitá-los regularmente, sejam vizinhos ou familiares».

Os guardas António Varandas e Catarina Antunes, da SPE – Secção de Programas Especiais, constituem a equipa do destacamento territorial da Guarda que realizou a operação nos concelhos da Guarda, Manteigas, Celorico da Beira e em algumas freguesias do Sabugal. Indicam que é «reconfortante» ver que os idosos já se sentem «mais seguros» e recordam que no início «muitos nem conheciam a GNR e muito menos as fardas». Alertam constantemente para a importância dos idosos não deixarem as portas abertas e de não falarem com desconhecidos, porque nunca se sabe quando é um burlão a bater à porta», e há pessoas que «pensam que isto é igual há 50 anos atrás».

«Muitos recusam-se a ter outro modo de vida»

Em termos comparativos, em 2011 tinham sido registados 389 idosos a viver isolados e ou sozinhos na área de responsabilidade da GNR da Guarda, mas o chefe da secção de investigação, operações e informações explica o significativo aumento verificado com o facto de na primeira ação apenas terem sido contabilizados os idosos que «viviam em locais isolados». Deste modo, «todas as pessoas que moravam sozinhas dentro de um aglomerado populacional não foram contabilizadas, o que já sucedeu desta vez, indicou o tenente-coronel Cunha Rasteiro. Dos 1.912 registados, há 40 «espalhados um pouco por todo o distrito que sinalizámos porque se encontram em risco ou porque vivem em situação degradante ou porque são portadores de doenças do foro psiquiátrico, outros oncológica, ou por falta de condições de habitabilidade». «Estes 40 preocupam-nos grandemente», daí que os dados recolhidos tenham sido enviados para instituições como a Segurança Social e as Câmaras Municipais, sendo que a GNR também vai ter um «cuidado mais especial com essas pessoas com um maior acompanhamento». O objetivo é «aumentar a proximidade, a comunicação e o relacionamento estreito entre a GNR e os idosos» e também «ganhar a sua confiança e criar-lhes um sentimento de segurança». Os casos mais preocupantes são os que vivem «isolados porque os que vivem sozinhos dentro de um aglomerado populacional sabemos que na nossa região ainda há solidariedade dos vizinhos». Cunha Rasteiro sustenta que «a maior parte destas pessoas que vivem em locais isolados já os pais e os avós viviam e muitos deles recusam-se a ter outro modo de vida e a serem encaminhados para centros de dia ou ter um tipo de apoio mais regular», reforça.

192 residem sozinhos e isolados

A operação de recolha de dados, no âmbito da “Operação Censos Sénior 2012”, feita pelo Comando Territorial da GNR da Guarda decorreu entre 15 de janeiro e 29 de fevereiro. Foram registados 1.912 idosos a residir sozinhos e ou isolados, sendo que destes 1.248 residem sozinhos, 472 em locais isolados, enquanto que 192 residem sozinhos e isolados. Guarda com 313, Trancoso (298), Pinhel (290), Celorico da Beira (237) e Gouveia (164) são os concelhos do distrito da Guarda que têm mais registos de idosos. Através de uma “ficha de registo”, os militares da GNR recolheram dados, para efeitos de avaliação do risco e recolha de informação sobre o idoso, como as coordenadas GPS da sua residência, se tem telefone, se vive sozinho, se vive isolado, se tem família, qual o tipo de alojamento, qual o estado de saúde e nível de autonomia, se tem médico de família, se recebe apoio e qual a regularidade desse apoio.

Ricardo Cordeiro

«Gostamos de morar aqui e não trocamos isto
        por nada»
«Gostamos de morar aqui e não trocamos isto
        por nada»

Sobre o autor

Leave a Reply