Embora não possamos negar a gravidade da crise que atravessamos, não deixa de ser verdade que a Europa tem vários motivos para estar otimista e confiante. Como europeus, devemos começar a considerar o setor cultural como um reservatório de esperanças e ideias novas de crescimento económico.
A prosperidade e o bem-estar da Europa de amanhã dependerão das ideias que tivermos para a fazer evoluir. Precisamos todos de ser melhores naquilo em que os artistas já o são – fazer mais com menos, encontrar novas e revigorantes perspetivas e novas e excitantes sinergias. A arte não é apenas algo acessório. É também uma forma de pensar e uma prática inovadora de trabalho com a realidade.
A crise é económica e política – não é certamente cultural. As cidades europeias contam-se atualmente entre as mais criativas e dinâmicas do mundo. Cidades como Londres, Milão, Paris, Amesterdão, Berlim ou Copenhaga são não só metrópoles, mas também grandes centros de criação em que o cinema, a música e a arte, os jogos de computador, o design e a moda, ocupam centenas de milhares de pessoas.
Integrando mais amplamente a cultura no planeamento urbano, na política social e no desenvolvimento das empresas, podemos tornar as cidades muito mais sustentáveis do ponto de vista económico e também mais atraentes e agradáveis.
Um inquérito recente realizado pelo grupo de reflexão dinamarquês FORA revela que a indústria criativa é a mais importante de Copenhaga, com cerca de 70 000 pessoas empregadas quer diretamente, em postos de trabalho criativo, quer em empresas como as de venda de artigos de moda que beneficiam das inovações da indústria criativa. Na União Europeia, a indústria criativa representa entre 3,3% e 4,5% da economia.
A proposta da Comissão Europeia de um novo programa de apoio – «Europa Criativa» – tem por objetivo, precisamente, apoiar os artistas e os profissionais dos setores criativos em toda a Europa. Convidamos todos os responsáveis políticos principalmente a nível local, a fomentarem iniciativas que possam fazer sair a arte do seu isolamento e integrá-la, juntamente com a criação e a atividade cultural, na sociedade em geral.
Temos de criar relações efetivas e duradouras entre a comunidade artística, as indústrias criativas e outros setores como a educação, o mundo empresarial, a produção e a investigação, a política externa e as atividades associadas ao desenvolvimento. Há muito a ganhar, nem que seja suscitando novas relações, e esta estratégia pode criar um forte crescimento sem necessidade de grandes investimentos financeiros.
Os artistas e os criadores devem, por seu turno, tomar consciência das suas próprias potencialidades e reafirmar a sua autoridade. Nós, os responsáveis políticos, devemos empenhar-nos mais em escutar os artistas, ainda que eles devam também comunicar melhor com o resto da sociedade.
Embora todos tenhamos de aceitar a crise tal como ela é, importa que entendamos o que ela também pode representar: uma grande oportunidade de reorientar a nossa comunidade europeia e de nos reinventarmos melhor.. A próxima geração de artistas europeus é detentora não só de uma grande responsabilidade, mas também de uma oportunidade única. Cabe-lhe aceitá-la e ser corajosa! Parafraseando Hillary Clinton: «Nunca se deve desperdiçar uma crise – por má que ela seja».
Por: Uffe Elbæk (Ministro da Cultura Dinamarquês) e Androulla Vassiliou (Comissária Europeia da Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude)
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||