Ter como objetivo de viver, como objeto de amar, como força de relação. Ter como um ruído em tudo o que é estar. Ter-te, ter uma casa, ter uma piscina, ter muito dinheiro, ter muito poder, ter muita solidariedade dos nossos, ter o controlo. Ter quando se torna a razão de viver subjuga a própria vida e o prazer. por isso ter-te devia ser provar-te. Por isso ter devia ser usar. A ti que tens eu prefiro aquele que vive. Passaste por mim. Já vivi ali. Fui muito feliz contigo. Sou feliz em ti. Mas estamos dentro sem ter e sem ser de ninguém. Gostava de ver os portugueses não serem compradores compulsivos, não buscarem nada além do essencial. Por um ano compramos comida, não adquirimos carros, nem casas, nem novas roupas. compramos se precisamos. Mais nada. Usar os pés para ir. Não levar o carro. Melhor, levar o carro cheio. Organizar a ida para que vamos todos. Assim eliminamos lentamente o desejo e não temos mais nada. Podemos até começar a desfazer a casa de tudo o que tem demais. Criar espaços de trocar e de vender o que não usamos. Desfazer de. Libertar-me de. Desprender-me. A liberdade maior é a de não ter. Não ter cão. Não ter piscina. Não pagar salários. Transformei a piscina num viveiro. Tornei as varandas canteiros. Onde havia uma sala de música estão agora galinhas. Autónomo e sem desperdícios. Será que ter é um desbarato? Podemos viver sem querer e sem ter?
Por: Diogo Cabrita