Arquivo

A nova vida de Alexandre Pascoal

Menino de Trancoso que sofre de Parkes-Weber já recebeu a sua primeira prótese

O Alexandre Pascoal tem 12 anos e sofre do síndrome de Parkes-Weber, uma doença rara que causa uma deformação arteriovenosa (multiplicação de veias e artérias) nas pernas. Os últimos oito anos foram passados entre o Hospital Pediátrico de Coimbra e o Hospital 12 de Octubre, em Madrid, onde foi operado quatro vezes.

A mãe, Sónia Pascoal, mostra-se agradecida por todas as campanhas solidárias desenvolvidas para ajudar o filho. «Começaram a surgir por iniciativa de um grupo de amigos, que partiram para a campanha das tampinhas, inspirados por outras causas, mesmo sem saberem se teria algum resultado prático», adianta, acrescentando que foram precisamente as tampinhas que fizeram «esta revolução toda, pois a partir daí houve alguma comunicação social a fazer reportagens sobre o Alexandre e quando o caso sai para a rua nestas dimensões, toda a gente quer dar o seu contributo». Desde então, foram organizados diversos eventos, desde bailes a provas desportivas, passando por concertos e espetáculos de teatro, tanto no concelho de Trancoso como em Mangualde, de onde a criança é natural.

Iniciativas que a família diz serem «importantes para o seu futuro» e uma «uma grande ajuda, pois há oito anos que o Alexandre anda em tratamentos e consultas, para as quais temos ido muitas vezes a Madrid». Sónia Pascoal está por isso muito agradecida: «A todos os que contribuíram, deixo um sincero obrigado», sublinhando a intenção de, a partir de agora, «dar atenção a outras crianças, a outras campanhas de casos que me tocaram, até porque, quando se recebe tanto de tanta gente, fica-se com vontade de retribuir». A família agradece ainda, em particular, ao Hospital Sousa Martins, «por se ter prontificado a ajudar nas sessões de fisioterapia e também pelo apoio psicológico prestado pelo “staff”», bem como à escola EB2,3 de Trancoso, «cujos professores, auxiliares e alunos têm contribuído para que o Alexandre seja um menino como os outros, algo que nesta fase é muito importante».

Na escola, Sónia Pascoal diz que o filho, que está a frequentar o 7º ano, «tem sido um verdadeiro exemplo de vida, pois, apesar dos internamentos em Coimbra e Espanha, nunca perdeu um ano e conseguiu sempre boas notas». A mãe confessa que «esperava uma descida nas notas, por não saber como ele iria reagir psicologicamente à situação, e também porque começou tarde o ano letivo», mas adianta que «até agora, os resultados têm sido bons e nota-se que o Alexandre anda mais extrovertido, talvez também por causa de todas estas atividades que tem havido à volta dele». Entretanto, o Alexandre já recebeu a primeira prótese. «Está a querer ambientar-se a ela, é um processo um pouco doloroso e não tão fácil como possa eventualmente parecer», refere a mãe. Mas é pelas próteses que passará o seu futuro e por se encontrar na fase de crescimento, «terá ainda de mudar algumas vezes», acrescenta.

Nada que pareça tirar o sorriso e a felicidade ao pequeno Alexandre, cuja preocupação maior era «a aula de Matemática» que ia ter logo após a entrevista. O futuro pode agora ser encarado com maior normalidade, e o Alexandre pode sonhar como qualquer outra criança da sua idade, e seguir qualquer área profissional, «menos jogar futebol», brinca. Quanto a outras possíveis alternativas, a resposta é perentória: «Ainda sou muito novo para pensar nisso».

O síndrome de Parkes-Weber

A doença começou a manifestar-se no Alexandre perto dos 3 anos, com o aparecimento de pequenas veias na perna esquerda. Foi seguido em Viseu e em Coimbra e, após vários diagnósticos, concluiu-se que sofria de Síndrome de Parkes-Weber, na sua variante mais grave.

«Com aquela gravidade era um caso único em Portugal e o total de casos a nível mundial era estimado em 100», recorda a mãe. Depois de «várias tentativas infrutíferas» para embolizar veias – isto é, tapar veias não necessárias ao organismo –, a amputação apresentou-se como única solução. A operação decorreu em setembro, em Madrid. Foi um momento de viragem na vida do Alexandre: «Depois da operação, o meu filho veio outra pessoa, encara a vida de maneira diferente, brinca e sente-se mais feliz, pese embora o facto de estar desarticulado, pois a amputação foi total, ao nível da anca», declara Sónia Pascoal. Antes o Alexandre era, segundo a mãe, «uma criança revoltada, muito reservada, porque não podia brincar normalmente com os outros meninos e quando as dores apertavam referia-se à perna como “isto”, e só pedia para lha tirarem», recorda. A mãe tem esperança de que, «com a amputação, a doença seja definitivamente ultrapassada».

Fábio Gomes O pequeno Alexandre procura agora ambientar-se à nova prótese

A nova vida de Alexandre Pascoal

Sobre o autor

Leave a Reply