Todos nós da Guarda nos lembramos das “guerras” que, ainda não há muitos anos, opunham a nossa Autarquia aos representantes do Governo de então no Distrito, recordamos os vários episódios relativos a projectos em que cada um deles alegava não poder fazer esta ou aquela obra, porque da parte do outro havia boicote.
Como exemplos, para avivar a memória, recordo a ampliação do actual Hospital, em que era exigida a venda de uma parte dos seus terrenos para financiamento da obra; o projecto do novo quartel da polícia a instalar nas actuais instalações do Arquivo Distrital, encontrando-se ainda hoje sem solução; e o impasse que se prolongou durante anos quanto à localização do Instituto Politécnico da Guarda, arrastando por vários anos o início deste projecto. Com este tipo de desculpas, cada uma das forças políticas intervenientes, encontrava as razões suficientes para, junto da respectiva clientela, justificar a sua inacção e garantir ao mesmo tempo a continuidade dos apoios nos momentos eleitorais. Bastava assim ter o engenho para, da forma mais convincente possível, fazer passar as “razões” que cada uma das partes invocava, culpabilizando os “outros” e ilibando-se a si.
Foi neste cenário de, quase diria, jogo combinado, que a Guarda deixou passar o tempo, e com ele os fundos comunitários, e as oportunidades, que entretanto outros agarraram. Para quem tiver dúvidas sobre o que afirmamos, sugiro um passeio à Covilhã, a Castelo Branco ou a Viseu, e comparar o que hoje aí vê, com a realidade dessas cidades há vinte anos atrás.
Este tipo de postura, ou de estilo de fazer política, tem ainda continuidade nos nossos dias, e a regra continua a ser simples e elementar: O político para conquistar o poder, deve contrariar ou mesmo boicotar, tudo o que sejam projectos ou propostas que não venham do seu partido, usando para tal como legítimos, todos os meios que a sua imaginação alcance. É assim, neste contexto, que, entre outros projectos, se desenrola a questão do novo Hospital da Guarda. Procurando fazer uma reflexão desapaixonada deste problema, penso que todos estaremos de acordo na necessidade de este Distrito ter melhores cuidados de saúde, tanto no que se refere a equipamentos e instalações, como acima de tudo, profissionais.
Igualmente todos concordaremos que o actual Hospital, pese embora alguns melhoramentos recentes, está aquém de uma boa ou razoável cobertura das nossas necessidades. Assim, torna-se necessário: fixar e cativar novos profissionais, garantir a continuidade das várias valências existentes, reequipar e modernizar alguns serviços, adequar as instalações, as actuais ou outras, de modo a conferir-lhes funcionalidade, capacidade, eficácia e qualidade hoteleira.
A questão da localização do novo Hospital tem sido a geradora de maior polémica, uma vez que o Governo impõe um terreno no Torrão, o qual obriga a fortes investimentos, tanto a nível dos terrenos, como das infraeastruturas, cujo valor global se aproximará dos 700.000 contos (3.500.00 euros). Contudo as actuais limitações de recurso ao crédito impostas pelo Governo às autarquias impedem a negociação de créditos de longo prazo, de modo a financiar uma possível aquisição do referido terreno.
Num país onde se gastam milhões a fazer estádios de futebol, todos situados no litoral, qual a razão pela qual o Governo não compra o terreno, uma vez que ele insiste na localização do Hospital no Torrão, ou aceita a outra opção do Parque da Saúde, a qual não significa encargos de terrenos para a autarquia, nem representa encargos significativos na realização de infraestruturas?
Acresce ainda que, pelo que nos é dado conhecer através dos inúmeros “folhetins” que este problema tem suscitado na vereação da Câmara, não existe entre as forças políticas aí representadas qualquer esforço de entendimento ou de colaboração, para que todos nós cidadãos do Concelho ou do Distrito da Guarda venhamos a ter o tal novo Hospital. Bem pelo contrário, cada uma destas forças tem procurado fazer do novo hospital uma arma de arremesso à outra e um cavalo de batalha em próximas campanhas políticas.
Assim é minha convicção que a história irá repetir-se, tal como no passado, em que o importante era justificar o que não foi feito e para tal arranjar bodes expiatórios. Nós cidadãos do Concelho e Distrito da Guarda é que ficamos a ver passar o comboio que outros vão depois apanhar. Seguramente que a não existência de um Hospital novo na Guarda, muito jeito dará ao desenvolvimento dos hospitais tanto da Covilhã como de Viseu.
Uma vez que os políticos não conseguem chegar a um entendimento, porque não fazer sobre este assunto uma consulta aos munícipes através de um referendo?
Alguém tem medo de, a este propósito, ouvir o povo? Aonde estão o democratas?
Por: Álvaro Estevão