Segundo um relatório da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) agora divulgado, as universidades públicas e privadas encerraram 737 cursos entre 2009 e 2010, a maioria criados já depois da implementação, há cinco anos, do processo de Bolonha.
A falta de procura é a principal razão para o fecho destes ciclos de estudos e entre a oferta que foi cancelada metade não chegou a entrar em funcionamento por nunca ter tido estudantes inscritos. Para Constantino Rei, esta informação é «retardada e sensacionalista», pois refere-se a uma «evolução histórica dos últimos três, quatro anos» e a encerramentos «que partem muitas vezes das próprias instituições por não chegarem a submeter os cursos para acreditação». Na Guarda, o presidente do Instituto Politécnico (IPG) dá conta do encerramento de três licenciaturas nos últimos anos. A saber, Engenharia Mecânica, Informática para o Turismo e Comunicação e Relações Económicas.
«Nos tempos mais recentes não encerrou nenhum curso», acrescentou, embora admita haver alguns «no limiar da sustentabilidade», como Secretariado e Assessoria de Direção, Engenharia Topográfica ou Animação Sociocultural. Já o curso de Contabilidade, a funcionar atualmente em regime diurno e noturno, «poderá sofrer uma reforma e passar a ser lecionado num só turno». Em reação aos números apresentados pelo relatório, Constantino Rei defende que «não se pode fazer uma análise fria» das estatísticas, sob pena de se extraírem «dados retorcidos, desfasados da realidade e que não têm em conta o trabalho dos Politécnicos na captação de públicos». O presidente do IPG lembra que nem todos os estudantes inscritos na instituição entraram pelo concurso nacional de acesso ao ensino superior e que há um número importante de estudantes oriundos dos concursos especiais para maiores de 23 anos, que desempenham «um papel importante na sustentabilidade» da instituição.
O professor exemplifica com a licenciatura em Energia e Ambiente: «Pelo concurso nacional entraram seis alunos, mas neste momento há 21 matriculados», declara. Constantino Rei sustenta também que qualquer medida de encerramento de cursos a ser adotada no futuro «tem de ser aplicada de forma cuidadosa e acompanhada, e com controlo de vagas», sob pena de se revelar «altamente prejudicial para as instituições de ensino».
Química Medicinal substitui Química Industrial na UBI
Já no que respeita à Universidade da Beira Interior, o vice-reitor Paulo Almeida refere que «nos últimos anos, a variação do número de estudantes de licenciatura tem registado um aumento na ordem dos 5 por cento, com um rácio na ordem dos 90 por cento na relação entre colocados e vagas oferecidas». Sobre o fecho de cursos, o professor diz que «o número de casos não foi significativo, tendo-se registado no último ano apenas o encerramento de um, de Química Industrial, que foi substituído por outro, de Química Medicinal», além da «substituição dos dois 1º e 2º ciclos de Engenharia Aeronáutica e Engenharia Civil pelos respetivos mestrados integrados». Paulo Almeida prefere falar numa «substituição pontual da oferta» que «não resulta de uma fraca procura, mas sim de uma opção estratégica da UBI relacionada, entre outros aspetos, com a otimização dos recursos humanos e materiais e maior qualidade de ensino».
No caso dos mestrados e doutoramentos, o vice-reitor revela que «não houve encerramento de nenhum ciclo de estudos, apenas uma escolha criteriosa na oferta de alguns mestrados», destacando que nos últimos dois anos o número de estudantes inscritos no primeiro ano de mestrado tem aumentado «na ordem dos 12 a 15 por cento». Já nos doutoramentos, o número de inscritos mantém-se, «embora se verifique uma evolução positiva em termos globais».
Quanto ao encerramento de cursos em funcionamento, o vice-reitor afirma que «neste momento, não há previsões nesse sentido», mas salienta que «está em aberto a possibilidade do curso de Filosofia não ter vagas» no próximo ano letivo.