«É o momento oportuno para pedir a proteção de N. Sra. das Misericórdias porque vamos ter um mandato muito complicado e difícil». O aviso é de Jorge Fonseca, reeleito provedor da Santa Casa da Misericórdia da Guarda, e foi transmitido na tomada de posse dos novos órgãos sociais da instituição na passada segunda-feira.
A ajuda divina será bem vinda com o avolumar da crise, mas o responsável também não se esqueceu de acrescentar que não bastará fiar-se na Virgem. «Todos temos que fazer pela resolução dos problemas da instituição, pelo que também contamos com a ajuda dos membros da mesa administrativa e do Conselho Fiscal», esclareceu. O provedor sublinhou que a Misericórdia vai ter «os mesmos problemas que as pessoas e as empresas» e que o principal objetivo será «manter o que temos, governar as nossas valências» e adiar projetos novos. «2012 e 2013 não vão ser fáceis, mas resta-nos fazer uma gestão equilibrada e rigorosa para evitar problemas como os de outras Misericórdias no país e na região», disse. Contudo, Jorge Fonseca admitiu que não deverá ser preciso «tomar medidas radicais», como despedimentos ou cortes salariais, para ultrapassar «esta crise económica e financeira terrível».
Atualmente, a Misericórdia da Guarda emprega cerca de 200 pessoas em lares, Unidade de Cuidados Continuados, creche, jardim-de-infância, ATL e Conservatório, frequentados por perto de meio milhar de utentes. E tem outros projetos, como uma Unidade de recuperação Global, que incluirá serviço de fisioterapia e ventiloterapia, entre outros, mas que só abrirá com a ajuda do Estado e da Unidade Local de Saúde. «É uma ideia a concretizar daqui a um ou dois anos, mas essa cooperação é absolutamente essencial para abrir esta valência porque não temos possibilidades sozinhos, uma vez que estamos numa região muito pobre», afirmou. De resto, a instituição já possui o material para o efeito e tem currículo nesta área assistencial: «Se trabalhamos bem e barato, penso que o Estado nada perde com essa cooperação, pelo contrário, ganha com a nossa ajuda», sustentou o provedor em declarações a O INTERIOR.
No entanto, Jorge Fonseca não esquece que a Misericórdia viveu recentemente uma «fase bastante complicada» devido a atrasos nas transferências de verbas protocoladas com os ministérios da Educação e da Saúde. «Tivemos falta de liquidez e houve um mês ou dois em que pagámos com algum atraso aos funcionários, isto porque se foi acumulando uma dívida de cerca de um milhão de euros relativa ao Conservatório e à Unidade de Cuidados Continuados. As primeiras tranches já foram desbloqueadas e estamos agora a tentar endireitar as coisas», adiantou, admitindo que se esse montante não fosse pago a instituição entrava «numa situação como estão a viver tantas outras Misericórdias». Mas as receitas continuam a ser o principal problema da Santa Casa, pois «as reformas dos nossos utentes são baixas e temos notado que há mais dificuldades em pagar as mensalidades. Há algumas dívidas, mas a maioria verificam-se na creche- infantário e no ATL», declara.
Nesse sentido, revela que a Misericórdia já não está a receber acamados, apesar de haver muita procura. «Isso exigiria um tipo de recursos humanos mais preparado, o que agravaria ainda mais as mensalidades dos utentes», justificou. Dos novos órgãos sociais da Misericórdia da Guarda fazem ainda parte, entre outros, os juízes desembargadores João Inácio Monteiro (presidente da Assembleia-Geral) e Orlando Gonçalves (presidente do Conselho Fiscal).
Luis Martins
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