Take 1. As palavras do bispo da Guarda na sua mensagem de Natal
“Nesta Noite de Natal, ao Menino de Belém aplicam-se as seguintes palavras de S. Paulo a Tito, hoje escutadas: ‘Manifestou-se a Graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens’. Porque manifestação sublime de Deus, este Menino dirige a todos nós hoje e a toda a Humanidade uma importante mensagem que o mesmo S. Paulo resume em três palavras, a saber: temperança, justiça e piedade. São três convites que vamos agora considerar. (…) Ao recomendar-nos a justiça, em nome do Menino de Belém, S. Paulo aponta-nos o caminho da solidariedade, a qual envolve uma correta distribuição dos bens criados e das oportunidades que dão acesso a eles”.
Take 2. As palavras do bispo da Guarda aos jornalistas, a seguir à mensagem de Natal (excerto de notícia publicada neste jornal).
“O Bispo da Guarda responsabiliza os trabalhadores da Misericórdia da Covilhã pelo impasse que a instituição está a viver. À margem da mensagem de Natal, e interpelado pelos jornalistas, D. Manuel Felício não foi brando nas suas primeiras declarações sobre o caso.
“O anterior provedor tinha várias soluções, não teve foi a colaboração a que tinha direito da parte dos trabalhadores. E se eles se negam a colaborar são responsáveis pelo que possa vir a seguir, até por perderem o seu emprego», avisou, acrescentando que, se isso acontecer, «ninguém pode culpar seja quem for porque eles são responsáveis pelo que se está a passar». A mesa administrativa da Misericórdia, presidida por Carlos Casteleiro e que tinha assumido funções no início de novembro, demitiu-se há três semanas depois dos funcionários terem recusado reduzir os salários em 10 por cento e um corte nos subsídios de férias e de Natal durante 26 meses. A medida destinava-se a sanear as contas da instituição sem recorrer a despedimentos. Dizendo que a Misericórdia não é a sua «maior preocupação», D. Manuel declarou que confia nos seus responsáveis para resolver «estas questões de gestão interna.
Take 3. A reacção da União de Sindicatos de Castelo Branco
Luís Garra, dirigente sindical, lamenta que o bispo opte por “condenar os trabalhadores, que têm salários de miséria”, em vez de esclarecer “as causas e os responsáveis” pela situação da Misericórdia. “Para o senhor bispo os patrões podem gerir mal e descapitalizar as empresas, podem meter-se em negócios ruinosos, podem encomendar estudos aos amigos pagos a peso de ouro que, depois, os trabalhadores pagarão a fatura mesmo que seja com trabalho escravo»,
Notas finais
A Misericórdia da Covilhã está em falência técnica e tem um passivo de cinco milhões de euros. Causado pelos trabalhadores? As mensagens de Natal dos membros da Igreja e o cristianismo não devem pertencer ao domínio do teórico. Devem ser aplicados, todos os dias, na relação com os outros. Não admira que, hoje, tanta gente se afaste do discurso da Igreja. Não admira que, por causa de alguns Homens da Igreja, tanta gente se afaste de Deus. Não admira que cada vez mais jovens se considerem espirituais mas não religiosos.
Por: Rosa Ramos