Fazer a retrospetiva do ano que finda é uma obrigatoriedade em qualquer jornal. Este ano a tarefa está “facilitada”: a crise é o denominador comum.
Ao recordarmos o que de mais importante ocorreu este ano, lembramos que Passos Coelho sucedeu a José Sócrates, mas que apesar da mudança de caras, a situação do país não melhorou, pelo contrário, descobrimos que tudo está mais difícil e que vamos empobrecer. E se o Governo socialista deixou o país vergonhosamente falido (estranhamente, apenas seis meses depois de serem humilhados em eleições, os socialistas parecem esquecidos da tragédia de que são os principais responsáveis e de que iremos sofrer as consequências durante, pelo menos, os próximos dez anos), o atual governo aplica as medidas da troika (negociadas pelo governo anterior) sem procurar outro tipo de caminho que não seja o da austeridade e do aumento de impostos. A política é, tem de ser, mais do que a mera gestão do deve e haver.
Na região, o destaque vai para a introdução de portagens nas autoestradas. O pagamento das ex-scuts vai implicar um aumento do custo de vida das pessoas e onerar sobremaneira os custos de produção das empresas. As portagens são um enorme retrocesso para a região, pois a falta de alternativas implica o aumento da distância-tempo e, em consequência, renovam o isolamento e a interioridade. Estranhamente, o assunto tem sido levado com enorme “tranquilidade” pela maioria das pessoas, até porque os tempos são de crise e, serenamente, o cidadão cala perante todas as privações que sofre. Chega-se mesmo a esta situação vergonhosa de serem obrigados a passar horas nas filas dos CTT para adquirirem um dispositivo para poderem andar na autoestrada que foi construída com dinheiros europeus, que eram destinados a promover a coesão territorial. A introdução das portagens vem dar expressão à desigualdade entre portugueses, vem alimentar a vil diferença entre litoral e interior; vem evidenciar a inadmissível miopia dos nossos dirigentes e o desprezo com que olham para o interior. E o mais extraordinário é que, os nossos políticos, os que nasceram na região, os que são eleitos pelos distritos do Interior para a Assembleia da República ou ocupam funções de destaque na administração pública, ou os autarcas, têm uma postura de subalternidade cívica, de vil irresponsabilidade social, de imbecil incapacidade de protestarem, e calam… Calam quando deviam clamar contra esta facada na pretensão da coesão social; calam quando deviam protestar contra mais este ataque violento ao vasto território pobre e ostracizado do interior; calam por cobardia e incompetência; calam porque não têm capacidade para falar, porque têm medo das hierarquias partidárias, porque se envergonham do seu provincianismo e ignorância. Quando mais esperávamos pela emergência de lideranças em prol da defesa dos interesses legítimos e genuínos da região, encontrámos uma sociedade em coma induzido que não reage a mais um ataque ao interior. É urgente contestar o desprezo com que o interior é tratado.
Desejo-lhes Boas Festas e que 2012 não seja tão severo como se diz.
Luis Baptista-Martins