O ano de 2011 vai ser recordado durante muitos anos pela sinistra irresponsabilidade de alguns. Segue-se uma breve resenha, não exaustiva:
1. José Sócrates. Que não era necessário resgatar Portugal e que o FMI não era para aqui chamado. Mais um PEC, com as inerentes medidas de austeridade, seria suficiente para restabelecer a confiança dos mercados e permitir ao Estado continuar a pedir dinheiro emprestado a juros baixos. Queria ele com isso dizer que era possível continuar a aumentar, sem consequências ou limites, o endividamento do país.
2. Passos Coelho. Que os sacrifícios exigidos aos portugueses no PEC IV, de Sócrates, eram excessivos e injustos. Tudo se resolveria sem aumento de impostos e sem grandes sacrifícios, cortando nas “gorduras” do Estado. Depois de ganhar as eleições com esse discurso, Passos Coelho passou meses a prometer revelar quais as gorduras que iria cortar. Afinal, tudo se viria a resumir a um generalizado e brutal aumento de impostos e a uma carga de sacrifícios muitos superiores aos sucessivos PEC de Sócrates. Entretanto, num dos anos mais difíceis da nossa vida democrática, decide forçar o País a ir a eleições com os inerentes e incalculáveis custos e, vê-se agora, um único e egoísta objectivo: ser primeiro-ministro.
3. Cavaco Silva. Foi contemporizando com todos os orçamentos da era Sócrates. Promulgou-os silenciosamente a todos e não era obrigado a isso. Do seu posto de observação era possível ver onde as políticas seguidas estavam a levar o país. Podia ter vetado os orçamentos, ou pelo menos podia dirigir-se ao País e manifestar a sua discordância, tal como fez aquando do episódio do Estatuto Político-Administrativo dos Açores. A verdade é que neste último caso, assim como em geral durante os anos que nos levaram ao abismo, Cavaco pareceu mais preocupado consigo próprio, e na sua reeleição, do que no interesse do país.
4. Alberto João Jardim. Acaba o ano com as calças na mão. A Madeira, de ameaça separatista em ameaça separatista, acaba 2011 com menos autonomia financeira que a mais pequena freguesia. Os dispendiosos e inúteis brinquedos de Jardim vão ser pagos pelos contribuintes madeirenses e pelos recursos da ilha. Entretanto, o fim do Off Shore madeirense levou já centenas de empresas para paragens, ao menos fiscalmente, mais paradisíacas. Isso não seria grave, até porque estavam poucos postos de trabalho em causa, não fosse a perda de dezenas de milhões de euros em receitas. Mais um, Alberto João, que vai descobrir à sua custa, e à custa de centenas de milhar de madeirenses, que no fim das espirais de endividamento há um cobrador de mão estendida e semblante carrancudo.
5. Alguns sindicatos. O Sindicato dos Pilotos da TAP quer que os seus associados passem de empregados a patrões e exige uma porção significativa da empresa e um lugar no conselho de administração. Seria interessante dar-lhes muito mais: a empresa toda e todo o conselho de administração, só para vermos a quem iriam depois reivindicar aumentos salariais e privilégios. O Sindicato dos Maquinistas da CP não quer tanto, até porque tem clara noção de que a CP está falida (talvez mais do que a TAP), mas tem exigências. Quer que a administração arquive centenas de processos disciplinares pendentes contra associados seus por violação dos serviços mínimos numa greve anterior. Não sei o que será o mais inquietante: se a descrença na Justiça, que poderia anular as sanções disciplinares que viessem a ser aplicadas pela empresa, se o desprezo pelos milhares de portugueses, dos mais pobres, que se viram impedidos de passar o Natal com os familiares, se o desconhecimento de que nunca uma administração que se preze pode ceder em matéria como esta, sob pena de abrir um inadmissível e perigoso precedente. De certeza que não querem ficar com a empresa?
Por: António Ferreira