Exmo. Sr. presidente da Câmara Municipal da Guarda:
Voltou a emergir o fantasma do encerramento da maternidade da Guarda e, a prazo, do fim de inúmeras valências clínicas e da própria instituição hospitalar como um todo.
Fazendo fé em notícias recentemente publicadas (jornal “O Interior” de 8 de Dezembro último), V. Exa. assumiu a preocupação «com a possibilidade da cidade perder serviços de saúde» e apelou a «todos para fazermos lóbi pelo hospital e a maternidade». Terá, igualmente, recusado «liderar» o processo, «garantindo apenas que a Câmara irá associar-se a quem defenda os nossos direitos».
(…)
O resultado dessa luta em defesa dos «nossos direitos» a que V. Exa. se referiu tem sido bem doloroso para alguns de nós. Ter levantado tal “fantasma” em pleno reinado Sócrates, sob a forma de abaixo-assinado, saiu-me bem caro, assim como a mais uns poucos que deram a cara pela causa, tendo alguns de nós sido premiados pelo defunto conselho de administração da ULS da Guarda e pelo seu presidente com perseguições na forma de inúmeros processos disciplinares, multas e até demissões da função pública.
Nada de que V. Exa. não tenha plena consciência, até porque decidiu nunca se «associar» aos nossos esforços …
Recordo-me de, em Fevereiro de 2007, na sequência de um outro abaixo-assinado, também dirigido ao primeiro-ministro do partido de V. Exa., ainda a propósito do mesmo assunto (as maternidades da Beira Interior), ter V. Exa. afirmado publicamente que o considerava «pouco oportuno», assumindo mesmo que «estes assuntos estão a ser tratados, pelo que é preciso alguma calma e muito bom senso» (edição de 8 de Março de 2007 do jornal “O Interior”, página 5).
Recordo-me também de, pela mesma altura, V. Exa. me ter remetido uma carta na qual afirmou: «Aproveito para manifestar o meu reconhecimento, a V. Exa. e aos restantes subscritores do abaixo-assinado, pelo empenho numa causa comum, vital para o desenvolvimento da Cidade e da Região» (ofício n.º 2221 da Câmara Municipal da Guarda, de 22 de Fevereiro de 2007) !!!
Podemos até, profissionais, grávidas e doentes, vir a perder esta guerra com o actual governo acerca das maternidades e do hospital. Sim, porque nem sempre o bem triunfa. Mas uma coisa lhe garanto: se tal acontecer, fá-lo-emos com honra, coerência e sem motivos para termos vergonha.
Não nos demitiremos de uma causa na qual acreditamos apenas porque no poder domina este ou aquele partido. Nem tão pouco por, na presidência da ULS, se alojar um “amigalhaço” do nosso partido ou um “inimigo” do outro.
V. Exa. pode até ser um bom presidente da Câmara. Mas como defensor da nossa maternidade e do hospital, deixa tudo a desejar.
É que a vergonha é um fosso que a natureza coloca entre a virtude e o vício. Está visto que não tem vergonha quem quer, mas apenas quem tem coragem. E que, de facto, onde morre a vergonha só podem nascer os expedientes mais desonrosos.
Por isso, rogo-lhe, do fundo do coração: NUNCA MAIS se pronuncie publicamente sobre o tema das maternidades da Beira Interior ou da relação do Hospital da Guarda com outras instituições.
Como pediu um dia um presidente da Câmara, haja bom senso!
Henrique Fernandes, Guarda
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