Começo pelo fim, pode ser que a crónica seja mais curta: A quem me lê, aos que dizem que lêm e aos que nunca me lerão, só quero mesmo que todos se aNATALem uns aos outros.
Desvou andar por aqui a dizer das razões porque inaprecio a época, mas são suficientemente convincentes para desejar que passe “rapidamente e em força”, recuperando um velho slogan do “Botas” de má catadura.
Confesso que não sou um apreciador de fado, embora haja um conjunto de fadistas que gosto de ouvir numa ou noutra interpretação. Também partilho a ideia que a Amália é indiscutivelmente a melhor de todas, e ouvi-la em determinadas canções, com poemas de gente notável é quase uma das raras “liturgias” que faço sem reservas.
Isto vem a propósito do fado ter sido muito justamente elevado a património imaterial da humanidade pela UNESCO. Tenho a convicção que foi um bom esforço, revelou trabalho e sensatez por parte dos que muito se envolveram, e passada a euforiazinha continuamos na mossa modorra quotidiana em que “tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”, e rapidamente nos vamos esquecer, como aliás acontece com todas as distinções que nos fazem um pouco menos infelizes.
Voltamos aos famigerados três Fs (efes) que foram os pilares onde assentou toda a ideologia corporativista em Portugal, depois de se ter estafado até à medula, os Afonsos, os Henriques, Gamas, Cabrais, Albuquerques e um conjunto de gente que de vela içada e brandindo a espada decepavam os infiéis desde a Europa aos confins do oriente.
Fátima continua com o monopólio das peregrinações na Europa do Sul, e com Lourdes tão longe e Santiago de Compostela para outra categoria de peregrinos, não temerá certamente concorrência nos tempos mais próximos, apesar de no quadro da economia da ICAR, “as velas derretem e a massa fica”, que talvez posa indiciar alterações.
O Fado, ao alcandorar-se a este patamar, vai com toda a certeza melhorar a sua qualidade, proporcionar o aparecimento de um maior número de intérpretes, músicos e compositores. Que não volte o “ O faduncho choradinho/de tabernas e salões semeia só desalento /misticismo e ilusões /canto mole em letra dura /nunca fez revoluções” (GAC- Vozes na Luta ).
O Futebol, pelos dinheiros que envolve, o protagonismo de muitos agentes que em circunstâncias normais ninguém descobria o mínimo de talento ou quiçá alento, os espaços importantes em toda a imprensa e o “arreganho” dos adeptos e sócios permite ao sistema político apaparicar este F (efe) de uma forma enfática.
Só há um detalhe neste F(efe) que ainda não está ao nível do período que antecedeu o 25 de abril de 1974, e tem a ver com o fim da “combinação” do antanho, o famoso BSB (Benfica, Sporting e Belenenses), superada pela supremacia incontestada da brilhante organização do Futebol Clube do Porto no quadro desportivo nacional e internacional. Demonstra acima de tudo que mesmo com o espoliar por parte de Lisboa do que foi a economia florescente do norte do país, para entregar à especulação financeira e imobiliária de arrivistas de má índole da capital, o Futebol Clube do Porto faz com que de facto o terceiro F não tresande a um regime quase maurrasiano.
Aproveitem e tentem ver o Natal através de um tablet!
Talvez até para o ano!
Por: Fernando Pereira