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«Quase todas as semanas recebemos novos pedidos de ajuda»

Cara a Cara – Paulo Pinheiro

P – É preocupante a ligeira quebra verificada na campanha de Natal deste ano?

R- Diria que mais do que a ligeira quebra são preocupantes os motivos que levam a ela. Ou seja, a crise, o aumento do desemprego e de situações complicadas. É complicado termos cada vez mais pedidos de auxílio que fazem com que as mais de 50 toneladas de alimentos doados se tornem muito poucas para acorrer a toda a gente e que o Banco Alimentar tenha agora que dizer não tantas vezes a muitas instituições.

P – O facto de haver menos donativos e mais pessoas a precisar de ajuda vai implicar alguma mudança na estratégia do Banco Alimentar Contra a Fome da Cova da Beira?

R – Não, porque já não é possível. Cada Banco Alimentar tem uma política de distribuição diferente. O de Lisboa, por exemplo, considera que se dá ajuda a uma instituição que ajuda famílias e pessoas, ela deve ser o suficiente para que a pessoa não tenha que ter gastos de alimentação. Nós temos um princípio diferente, já que pretendemos minorar dificuldades e dessa forma conseguirmos que as pessoas, nos casos em que é possível, possam dar o salto para a frente e melhorar a sua vida. Atualmente, já damos tão pouco que estarmos a dividir ainda por mais era muito complicado e neste momento já só acorremos a casos extremos de pessoas que podem passar dias sem ter nenhuma comida à frente. Aí naturalmente que indicamos para instituições com quem temos protocolos. O último que fizemos sentimo-nos na obrigação de o fazer porque a pessoa que fez o pedido de ajuda já me dizia que, pelo menos, lhe déssemos arroz e é uma instituição que se dedica a crianças com idades até aos seis anos.

P – Como é que o Banco se está a preparar para 2012, uma vez que se perspetiva um ano de ainda mais dificuldades económicas?

R – Não estamos a fazer uma preparação especial porque não há por onde. Não vamos guardar os donativos de alimentos de um ano para o outro. Todas as perspetivas apontam para que 2012 seja pior, mas vamos ter de jogar com o que temos a cada momento. O que estamos a fazer um pouco diferente é tentar constituir equipas para fazer um melhor aproveitamento dos excedentes alimentares que há na região. É um trabalho complicado, exige voluntários com disponibilidade, o que nem sempre é fácil de arranjar, geralmente durante a semana porque é quando as empresas que têm os excedentes trabalham. As pessoas têm que ter também um veículo próprio, com alguma capacidade de carga, porque o Banco não tem veículos. Isto é uma tentativa de minorar o ano que aí vem. As perspetivas para 2012 não são boas, mas o Banco também não tem assim tantos recursos para dizer que temos uma almofada de segurança que poderemos utilizar no próximo ano.

P – Quantas pessoas ajudam regularmente?

R – Temos a ajuda indireta e então há sempre um certo desfasamento entre o número de pessoas que ajudamos, mas rondará as 4.500 pessoas, das quais entre 950 a mil crianças. São as que conseguimos ajudar. Atualmente quase todas as semanas recebemos novos pedidos de instituições a dizer que necessitam, que estão em dificuldades e nós pura e simplesmente temos que dizer que não e custa-me muito fazê-lo.

P – Há muita fome na Cova da Beira e nos concelhos do distrito da Guarda abrangidos?

R – Está a aumentar porque as pessoas se alimentam dos rendimentos que têm e se eles estão a cair naturalmente que as pessoas não vão ter tanta capacidade de o fazer. Há casos muitos graves na região e não compreendo como é que para casos com uma gravidade tão elevada não há uma resposta da Segurança Social, que tem meios para esses casos. É preciso esclarecer que o Banco Alimentar não distribui os produtos da Segurança Social. Discorda das regras em primeiro lugar e, em segundo, se a Segurança Social tem assistentes sociais profissionais para acorrerem aos casos e estarem no terreno não vai ser o Banco Alimentar, que só funciona com voluntários, que vai fazer isso. Não digo que somos perfeitos na distribuição, faço é um alerta para que a Segurança Social veja melhor os casos. Que vá para o terreno mais vezes, que fale com as instituições, que muitas vezes são quem conhece a realidade, e faça uma distribuição mais equitativa e que abandone algumas regras que são um absurdo.

Paulo Pinheiro

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