Depois de uma tentativa abortada em 2006, está novamente em cima da mesa a concentração dos serviços hospitalares na Beira Interior, onde o grupo técnico da reforma hospitalar recomenda o fecho de uma ou duas maternidades e a integração das Unidades Locais de Saúde (ULS) da Guarda – constituída pelos hospitais da Guarda, Seia e 12 centros de saúde – e Castelo Branco no Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã.
O estudo, encomendado pelo Ministério da Saúde, foi divulgado na semana passada e fez soar o alarme na Guarda, cinco anos depois do projeto de intenções lançado por Correia de Campos. Na altura, as coisas acabaram bem, pois o ministro anunciou não só a manutenção da maternidade, como também obras de cerca de 70 milhões no Hospital Sousa Martins. Agora, parece já não haver volta a dar e a mudança, que a crise e a “troika” exigem, deve ser concretizada até ao final do primeiro trimestre de 2013. As propostas não são novas, mas os especialistas do grupo, presidido por José Mendes Ribeiro, consideram que chegou a altura de «potenciar a missão dos respetivos hospitais enquanto unidades com ensino universitário». Esta é a premissa principal para a criação do Polo de Saúde da Beira Interior, «como uma experiência piloto de alargamento do conceito de ULS à plena articulação ou mesmo integração do Hospital da Cova da Beira e da ULS da Guarda (e/ou ULS de Castelo Branco)», incluindo o Agrupamento de Centros de Saúde da Cova da Beira.
Na mesma onda, o grupo técnico defende a «necessidade de repensar o desenho da atual oferta no setor materno-infantil», que passará pelo fecho de «uma ou duas maternidades». Os especialistas recordam que atualmente funcionam três serviços na Covilhã, Castelo Branco e Guarda «com um total de partos anual na ordem dos 2.000», mas não concretizam quais estão em risco de encerrar e que critérios serão tidos em conta na hora de tomar a decisão. O que já valorizam é a existência da Faculdade de Ciências da Saúde na UBI, na Covilhã, embora os três hospitais sejam parceiros indispensáveis na formação dos seus alunos. O plano de racionalização da rede hospitalar portuguesa destina-se a reduzir os custos operacionais das unidades em 15 por cento até 2013, estimam os autores do estudo, encomendado à Entidade Reguladora
da Saúde (ERS). O documento já está no posse do ministro da Saúde, Paulo Macedo, a quem cabe decidir o encerramento ou fusão de maternidades e outros serviços com base nestas recomendações. De resto, está previsto publicar um plano de ação no final de novembro do próximo ano e implementar a nova carta hospitalar do país «no primeiro trimestre de 2013».
Quem já reagiu a este plano foi Joaquim Valente. O presidente da Câmara da Guarda assumiu estar preocupado com a possibilidade da cidade perder serviços de saúde e apelou a «todos para fazermos lóbi pelo hospital e a maternidade». Recusou, no entanto, liderar o processo, garantindo apenas que «a Câmara irá associar-se a quem defender os nossos direitos». De resto, o edil espera que a administração central cumpra «as suas responsabilidades, até porque o programa funcional do Hospital Sousa Martins foi aprovado pela tutela». E acrescentou que aceita a complementaridade entre hospitais, «mas é completamente diferente acabar com serviços numa região».
Luis Martins