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Os livros da minha vida

por Licínia Pais*

O desafio foi lançado e a questão pairou no ar, ansiosamente à espera de uma resposta que teimou em chegar, não por falta de palavras, mas por serem tantas as possibilidades quanto os gostos. Dei por mim perdida em mil e uma recordações de livros folheados, de aventuras imaginárias, tristezas e alegrias tomadas como minhas. Felizmente a pergunta não foi feita no singular. Aí, a minha indignação seria imediata e diria a quem se atrevesse a lançá-la que seria impossível fazer tal escolha.

Um, dois, três… e a contagem daqueles livros tão singulares e tão meus quanto a leitura feita perde-se no tempo. Com eles adormecemos, sonhamos, deliramos, choramos, amamos e odiamos com a mesma força anímica das personagens que povoam as páginas descobertas. A eles voltamos de tempos a tempos como se a nossa força vital, ou pelo menos a espiritual, disso dependesse. E assim, vamos crescendo, ou pelo menos sonhando…

Marcados, dobrados, anotados, usados, descolados, tropeçam atrapalhados e ansiosos por serem resgatados no esquecimento do tempo porque “quando relemos, fazemo-lo gratuitamente, pelo prazer da repetição, pela alegria de novas descobertas, para a intimidade” (Pennac, 1992). São livros carregados de palavras que ganham vida e nos embalam na descoberta de novos sentidos, livros como O Principezinho, de Saint-Exupéry, Os Maias, de Eça de Queirós, O Guarani, de José de Alencar, Como um Romance, de Daniel Pennac, O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcellos, A Pérola, de John Steinbeck, Adeus, Minha Concubina, de Lilian Lee, Mágoas da Escola, de Daniel Pennac, Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, Travessuras da Menina Má, de Mário Vargas Llosa, Os Filhos da Droga, de Christiane F., A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, Os Pilares da Terra, de Ken Follett, Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, Dom Casmurro, de Machado de Assis, Iracema, de José de Alencar, The Great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, Os Noivos, de Alessandro Manzoni, As Intermitências da Morte, de José Saramago, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, O Vermelho e o Negro, de Stendhal ou O Rapaz do Pijama às Riscas, de John Boyne.

Outros, como Tudo o Que Temos Cá Dentro, de Daniel Sampaio, O Céu existe Mesmo, de Lynn Vincent, Pegadas na Areia, de Margaret Fishback Powers, Flint, de Stanley Coren, Paula, de Isabel Allende ou A Cabana, de William Paul Young esbarraram em mim por mero acaso e trouxeram luz e esperança em momentos menos felizes.

Outros ainda foram apenas lidos a custo, porque também há livros assim, poucos, diga-se, ou melhor, leia-se, que me cerram os olhos de tão maçudos que são e me obrigaram, por isso, a adiar a primeira leitura. Talvez não fosse a altura certa e um dia ganhem uma nova cor e um outro sentido…

Mas chega de demora porque o espaço é pequeno e a divagação já vai longa. Atrevo-me, para terminar, e sem sentimentos de presunção ou vaidade, a lançar um novo desafio. Faça-se o percurso inverso: “A minha vida nos livros”. Procurem bem e, com um ou outro retoque pitoresco, o encontro será, com toda a certeza, surpreendente. Aguardam-vos novas descobertas…

* Assistente Técnico

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