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Quem espera, desespera

Editorial

1. As portagens nas autoestradas A23 e A25 (bem como na A24 e na A22-Via do Infante) vão mesmo ser uma realidade e começarão a ser cobradas dia 8. Todos os esforços de contestação não chegaram para mobilizar a população, quanto mais os governantes, e assim, com a serenidade do povo e os castigos da troika ao regabofe nacional, vai ser perpetrado mais um atentado contra o desenvolvimento do Interior. Os argumentos da falta de alternativa ou do aumento de custos às pessoas e às empresas não colheram e, assim, vamos pagar uma nova taxa, sobre a forma de portagem electrónica. Será mais uma forma de desequilibrar Portugal. A interioridade vai pesar ainda mais neste vasto território tantas vezes ostracizado.

2. O «empobrecimento», como consequência funesta do atual estado económico-financeiro do país, recebeu mais uma péssima notícia: a estimativa da OCDE. O cenário traçado pela organização para Portugal é muito mais duro do que aquele que Comissão e Governo tinham enunciado – crescimento negativo em três por cento. A OCDE estima para 2012 uma contração do PIB português em 3,2 por cento. Mas, ainda mais grave, para a OCDE, em 2012, o desemprego em Portugal deverá atingir os 13,8 por cento. E para 2014 a previsão é de 14,2 por cento. Para a OCDE o desemprego vai continuar a crescer e a bater recordes. Muito mais grave do que o corte de subsídios aos funcionários públicos e pensionistas que auferem mais de 1.100 euros, mas que vão continuar com o sorriso nos lábios de quem tem emprego garantido e com rendimento acima da média, será ver a expressão de fome e miséria em que vão ficar cada vez mais portugueses. Cerca de 800 mil portugueses vão entrar em desespero, não pelos cortes de subsídios ou aumento de IRS, mas apenas porque vão deixar de ter dinheiro para comer. O fim do estado social é isso. E as consequências vão ser perigosas: o fim da paz social, a erupção de insegurança, o aumento de assaltos e o medo generalizado dos cidadãos, em especial nas grandes cidades e entre os idosos isolados. O Portugal dos últimos 20 anos, de crescimento e desenvolvimento, faliu. O pagode e as festas de arromba mataram a galinha dos ovos de ouro que devia ter consistido apenas em, todos, vivermos melhor. A corrupção, o amiguismo, a “cunha”, os empregos nas câmaras e outras instituições, o fartar vilanagem de políticos e patos-bravos mataram o futuro de Portugal. Os próximos anos serão de penúria. A ladroagem que nos levou a esta vida, vai continuar por aí, a viver às custas de quem trabalha.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Helder Silva hjvsilva@sapo.pt
Comentário:
Exmo. senhor director, sou funcionário público e segundo V. Exa. tenho emprego garantido. No entanto, basta um olhar mais atento à situação de outros países europeus (Grécia, Irlanda, Inglaterra,…) para verificar que trabalhar para o Estado já não é garantia de nada. Será uma questão de tempo até haver despedimentos na função pública. Admito, como é evidente, que a minha situação é bem mais agradável do que a de milhares de pessoas desempregadas. Mas daí a “continuar com o sorriso nos lábios de quem tem emprego garantido e com rendimento acima da média” vai uma grande distância. Não tenho por hábito alegrar-me com a desgraça alheia. Nos últimos tempos têm-se multiplicado na nossa sociedade, os comentários que de alguma maneira dividem os trabalhadores entre funcionários públicos e trabalhadores do sector privado. Este é um deles. Num momento em que devia existir uma maior união, proliferam as palavras que dividem. Os funcionários públicos precisam dos trabalhadores do sector privado, e estes dos funcionários públicos. E o Sr. também necessita de todos. Mas não se preocupe que vou continuar a comprar o seu jornal. Helder Silva
 

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