Na Linha da Beira Baixa a CP optou e muito bem pela substituição dos comboios convencionais por unidades triplas elétricas (UTEs) recentemente remodeladas, a partir do dia 1 de Novembro. Todavia, esta alteração tem vindo a ser contestada publicamente, na nossa opinião utilizando argumentos discutíveis.
Como ex-ferroviário, especialista na matéria e utente frequente, no texto que se segue são fundamentadas as razões que me permitem concluir que a atual escolha é a mais racional. Para melhor entendimento, comecemos por caracterizar os comboios em serviço:
Até 31/10/11: loco LE5600, de 5600 kW e 220 km/h, 1 carruagem corail de 1ª classe (bar+passageiros), 2 carruagens corail de 2ª classe.
Com início a 1/11/11: UTE remodelada, da série 2200, de 2000 kW e 120 km/h, com reboque piloto de 1ª classe, 1 automotora de 2ª classe, e 1 reboque piloto de 2ª classe.
O serviço com UTEs remodeladas não é de forma alguma inferior devido aos seguintes fatores:
Não são comboios do passado, sendo a sua transformação excelente, apresentam um conceito de modernidade notável e possuem um certificado oficial de qualidade.
As acessibilidades foram melhoradas, os espaços das bagageiras e dos lavabos são mais amplos, a 2ª classe é equipada com mesas e o espaço interior é mais amplo e acolhedor.
É disponibilizada rede elétrica para carga de equipamentos portáteis, os sistemas de ar condicionado e de iluminação são bastante eficientes, o nível de conforto é excelente e o seu funcionamento é silencioso devido à transmissão elétrica assíncrona.
Poupa-se em energia elétrica consumida, em tempo e em mão-de-obra nas estações terminais, porque não há manobras com as locos, sendo os custos globais de manutenção inferiores e não há redução na oferta (185 lugares contra 192).
Com lotação completa a potência por passageiro é de 11 kW nas UTEs e de 29 kW nos comboios (menos 62 %), as UTEs pesam menos 24 % (173,3 ton contra 229 ton), e o rácio entre os pesos totais é de 0,76, o que conduz grosso modo a uma poupança de energia de cerca de 25 %.
Esperemos assim que cessem as críticas, e ainda que o governo tenha a sensibilidade suficiente para renovar o troço Covilhã-Guarda, pois a linha da Beira Baixa representará uma via estruturante para o intercâmbio de mercadorias com a Europa e para o desenvolvimento da Beira Interior, seguindo o exemplo brilhante da PT Inovação.
Carlos Cabrita, Departamento de Eng. Electromecânica, UBI
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