Arquivo

Greve Geral

Vem aí mais uma greve geral, desta vez, o que não acontecia há décadas, convocada pelas duas centrais sindicais. De acordo com o pré-aviso, pretende-se com a greve defender o emprego, impedir uma revisão constitucional que reduza os direitos dos trabalhadores e impedir a redução de salários e pensões. Há outro objectivo, não escrito mas evidente, e que é condicionar a aprovação do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2012.

Por isso, a adesão à greve vai acabar por ser uma espécie de sondagem aos trabalhadores sobre qual a sua posição sobre o próximo OGE e se deve ser aprovado como está ou não. Espera-se, como é evidente, uma muito maior adesão dos funcionários públicos do que dos trabalhadores do sector privado. Afinal, aqueles apanharam em cheio com as primeiras consequências do acordo com a Troika. Os segundos esperam a sua vez, mas esta ainda só chegou parcialmente.

Pode questionar-se a eficácia desta arma, a greve, para a obtenção dos objectivos pretendidos. Afinal, como escreveu José Carlos Espada há uns dias no Público, a discussão europeia sobre a saída para a crise da dívida, a que originou as circunstâncias e sacrifícios que levaram à greve geral, limita-se a dois grandes argumentos: há os que pensam que a Alemanha, ou o BCE, deve emprestar dinheiro aos países do Sul, ou avalizar os empréstimos destes, e há os que pensam que esses países devem é gastar menos e procurar orçamentos equilibrados. As centrais sindicais sabem bem que as actuais opções orçamentais têm a ver no fundo com as opções para o financiamento do estado e que estas redundarão sempre ou no aumento da receita, com impostos sobre todos os trabalhadores, ou com a diminuição da despesa, com eventual redução das retribuições da Função Pública. Portanto um dos destinatários da mensagem que pretendem transmitir no dia 24 será também a chanceler alemã.

Pensando bem em todas as variáveis do caso, não parece muito provável que a greve leve à obtenção de alguma coisa realmente útil. Vale pelo gesto e pela soma deste protesto ao protesto de muitos, em vários outros países. Já sabemos que a União Europeia não gosta muito de democracia e dispensa a opinião dos seus cidadãos, mas a coisa pode mudar quando os protestos chegarem a França à escala grega.

Fazer greve ou não? Parece cada vez mais evidente que as actuais políticas, as internas e as europeias não chegam para resolver os actuais problemas, ou pelo menos não estão a funcionar. Não fosse o custo astronómico de parar por um dia um país que precisa urgentemente de produzir mais e a resposta seria fácil.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply