A maternidade do Hospital Sousa Martins, na Guarda, registou «um aumento de 10 por cento nos partos» face ao ano de 2010, revelou a diretora do serviço de Obstetrícia a O INTERIOR. Segundo dados divulgados, no início deste ano, pelo Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde, houve mais de 600 partos na maternidade guardense em 2010, um número que este ano deverá subir até aos «700».
«Penso que este acréscimo de partos é uma mais-valia para nós porque noutras maternidades o número tem vindo a baixar», reconhece Cremilda Sousa. No entanto, a médica assume que «é um erro olhar para grávidas tendo por base números. Grávidas não são números», defende, acrescentando que a quantidade de partos nem sempre reflete «a qualidade dos serviços». A diretora do serviço de Obstetrícia desvaloriza, por isso, os dados divulgados na edição d’O INTERIOR da semana passada, que dão conta de 188 grávidas do distrito da Guarda terem tido os seus filhos na maternidade do S. Teotónio, em Viseu. «Tenho aqui muitas senhoras de Viseu, de Coimbra, de Lisboa que vêm ter os seus filhos na maternidade da Guarda», adianta. No seu entender, a causa familiar e as distâncias entre a residência e o hospital são fatores que têm sempre peso na decisão das futuras mães. «Não tem a ver com a qualidade do serviço», garante Cremilda Sousa, acrescentando que o local de trabalho das mães também tem influência. «Há senhoras da Guarda que trabalham no distrito de Viseu e acabam por ser seguidas lá nas consultas», refere.
O presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde faz a mesma análise. Fernando Girão diz que sempre existiram «fluxos e trocas» que levam grávidas a terem os seus filhos noutros distritos. «Há grávidas de Seia que fazem o parto em Coimbra. E outras da Covilhã e de Viseu que vêm para a Guarda», sublinha. O médico acredita que, nestes casos, «a proximidade é um fator importante», uma vez que localidades como «Aguiar da Beira, Fornos ou Seia ficam às portas de Viseu e há muitas senhoras que acabam por ser acompanhadas lá. E a verdade é que temos mais partos do que a Covilhã, temos 700», acrescenta.
Fusão de maternidades novamente em debate
A fusão das maternidades dos três hospitais da Beira Interior está novamente “sobre a mesa”, depois de o ministro da Saúde ter admitido recentemente o fecho ou a fusão dos serviços com menos de 1.500 partos por ano, um número que não se verifica em nenhuma das unidades da Covilhã, Guarda ou Castelo Branco. Na opinião da Diretor do Serviço de Obstetrícia do Hospital Sousa Martins, «a fusão de maternidades é um erro muito grande» porque «não se vê a qualidade de um serviço pelo número de partos efetuado». Cremilda Sousa mostra-se preocupada com as distâncias entre as diferentes localidades da região. «O nosso distrito é muito grande e tem muitos concelhos. Como vão fazer? Fundir aqui, em Castelo Branco?», questiona. «Temos de pensar seriamente nas distâncias, porque no que diz respeito a partos, às vezes os segundos são primordiais», considera. Já o presidente do Conselho de Administração da ULS admite que «a tutela tem o direito de fazer os seus estudos e de reorganizar». «Só me posso pronunciar sobre o tema quando houver decisões. Não faço futurismo», diz Fernando Girão. Ainda assim, afirma que «já se fala no possível fecho da maternidade há vários anos e ainda não fechou, tem conseguido permanecer».
Inauguração do novo edifício do Hospital não deverá acontecer antes do final do ano
O novo edifício do Hospital Sousa Martins, na Guarda, não deverá ser inaugurado antes do final do ano. «Gostaria muito que abrisse antes do final de 2011, mas a probabilidade disso acontecer está a fugir», admite o presidente do Conselho de Administração da ULS. Fernando Girão diz que o atraso está relacionado «com equipamentos e aparelhos que estão encomendados e têm de vir do estrangeiro». «Não está nas minhas mãos, nem na minha vontade», garante.
Farmacêutica ameaça cortar medicamentos se Hospital não pagar a pronto
A farmacêutica Roche anunciou, na semana passada, que iria cortar o crédito a cinco hospitais portugueses, entre eles o da Guarda, a partir de dezembro. Estas unidades hospitalares só receberão os medicamentos se pagarem a pronto, isto porque têm uma dívida há mais de dois anos para com a farmacêutica. Mas o presidente do Conselho de Administração da ULS Guarda garante que responsáveis dos laboratórios Roche estiveram recentemente no Hospital e «não levantaram esse tipo de questão». Escusando-se a adiantar o valor da dívida, Fernando Girão revela que existe «um plano de pagamento» e não haverá «nenhum impacto para os doentes em nenhum dos serviços». «Estamos bem em termos de “stock”, não há qualquer problema», garante. No entanto, as associações de doentes contra o cancro estão preocupadas com o impacto que a possível suspensão terá nos tratamentos das doenças oncológicas.
Catarina Pinto