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Está Tudo Ligado

Depois do nascimento do bebé sete mil milhões algures na Índia ou em outro lugar qualquer, que não em Portugal, houve quem recapitulasse as contas da nossa demografia e concluiu que não estamos bem. A conjugação da baixa natalidade nacional, de 1.3 filhos por mulher, com o aumento da esperança de vida vai levar-nos a médio prazo a uma situação em que boa parte de nós não estará já em idade de trabalhar e os que estiverem não vão ser suficientes para pagar a conta. Para evitar isso seria necessário que nascessem cento e sessenta mil crianças por ano e nascem pouco mais de cem mil. Entretanto, por esta e por muitas outras razões, a Segurança Social estará falida e terá de obter do Orçamento Geral do Estado as verbas necessárias para o pagamento das prestações sociais.

Se isto já por si não é bom, não significa que não possa piorar. As tendências para o aumento do desemprego só podem agravar essa situação, ao aumentar o número de dependentes da Segurança Social ao mesmo tempo que diminui o número dos seus contribuintes. É também muito mau que fechem empresas todos os dias, e é mau não só para a Segurança Social, por aquelas razões, mas também para o Estado, por muitas outras. Ao diminuir o produto diminuem as receitas do Estado em IRC, IRS e IVA e menos dinheiro vai haver na Orçamento Geral do Estado para financiar as prestações sociais. A crise vai alimentar-se a si própria e vai ser cada vez mais voraz.

Há muitas razões para isso e teremos até ideia de boa parte delas. O nosso Estado pesa demasiado, somos demasiado egoístas para querer ter filhos, sobrevalorizámos o consumo sobre o trabalho e o imediato sobre o futuro. Ainda por cima, demasiados de nós estão convencidos de que tudo se pode resolver sem sacrifícios ou sem mais sacrifícios. Mas há outras coisas. Por exemplo: muitos dos nossos dirigentes passaram demasiado tempo na órbita do Estado e desconhecem o funcionamento e os problemas das empresas. Para eles, uma empresa é uma espécie de caixa negra de onde saem receitas fiscais e a quem se podem aplicar um sem número de coimas – entendidas estas como uma fonte fácil de receitas. Esta atitude não augura nada de bom quando a economia está de rastos e se torna evidente que só poderá recuperar quando as empresas recomeçarem a contratar pessoal, a produzir e a exportar, de modo a que volte a haver gente com coragem para ter filhos.

Entretanto, enquanto as empresas vão fechando, aumentando o desemprego e aproximando a Segurança Social do descalabro, as entidades fiscalizadoras continuam a aplicar multas por tudo e por nada, seguindo “instruções de cima”, indiferentes às insolvências que provocam. Não há quem ponha um travão nisto?

Por: António Ferreira

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